sábado, 9 de março de 2013

Hornillos Del Camino a Ítero de La Vega (31,2 Km)

Etapa 14 (12/05/12): vencer o medo do imprevisível e ouvir o seu corpo !


Que boa constatação ao acordar: as panturrilhas não estavam doendo, acredito que o remédio e as longas massagens surtiram efeito... preparei-me para me poupar novamente nesta etapa, planejando andar até onde fosse possível... vamos ver no que deu?
Desde a saída são cerca de 6 Km de aclive, sem bosque algum e com vegetação rasteira, até passarmos pelo Refúgio de Arroyo San Bol. Um pequeno albergue, com capacidade para 12 pessoas, bem simples e com poucos serviços.
Uma casinha no meio do nada... acredito que teria sido uma boa experiência ter pernoitado aqui!
Mais 5 Km, nos deparamos de uma hora para outra com o povoado de Hontanas. Digo isto porque apareceu de repente, fica encravado numa grande depressão.  
Atravessar este lugarejo, de quase 60 habitantes, é muito fácil... uma longa descida numa ladeira estreita com casas, bares e albergues de um lado e do outro.
Daqui em diante foi só planície e pequenas descidas. Belas paisagens, com muito verde...

Olhem só esta estrada...


E ao final dela, encontramos as ruínas do Convento de Santo Antón. Passamos bem por debaixo das suas arcadas. No século XV serviu de abrigo à Ordem dos Antonianos, os quais eram conhecidos por curarem uma doença parecida com a hanseníase. Tive a notícia que funciona ali um albergue, mas não consegui localizá-lo.



Caminho muito bonito entre verdes trigais...

Cidade à vista... era Castrojeriz. De longe já dava para visualizar a Colegiata de Nuestra Señora Del Manzano, igreja românica do século XII; e à esquerda, no alto de um morro, as ruínas do Castelo Castrum Sigerici, palco de grandes batalhas no século IX.



Este município, com quase mil habitantes, possui muitos monumentos e cinco albergues, foi o local onde poderia ter parado para pernoitar... acontece que ainda era muito cedo (10:30h), e estava inteiríssimo, sem dor alguma! 



Naquele momento tomei uma decisão: iria avançar sem definição de local para o pernoite... andaria até aonde desse ou por no máximo mais 10 a 12 Km.
Cada dia no Caminho tiramos muitas lições. Neste, em especial, refleti como é bom para uma pessoa perfeccionista, dizem que sou, experenciar o fato de acordar e não saber aonde vai pernoitar... o medo do imprevisível... foi um conflito interior que favoreceu em muito o meu crescimento, principalmente no sentido de deixar as coisas acontecerem naturalmente...
Olhem lá a ladeira que estaria por vir... é a chamada Colina de Mostelares, simplesmente 910 metros de altitude!


Aos poucos Castrojeriz ficou para trás...

 
Na metade da ladeira tomei um susto. Este ciclista passou em alta velocidade... deu até vontade de dar uma pedalada, embora estivéssemos em sentido contrário!

Final de subida... realmente foi extenuante! Lá em cima tem um pequeno abrigo, bem como um marco, chamado de vértice geodésico.
Reencontrei o João e a Sandra(DF), tiramos algumas fotos e aproveitei para trocar as meias, estavam encharcadas de suor... Atenção futuros peregrinos: a umidade é a inimiga número 1 dos pés, porque os deixa propícios ao aparecimento de bolhas e calos. Normalmente os secava com alcool romeiro, facilmente encontrado nas farmácias de toda a Espanha.



 

Após descidas e mais descidas, ladeadas por intermináveis trigais, passei por esta área de descanso, repleta de turistas que estavam fazendo um pequeno trecho do Caminho. Parei rapidamente cumprimentando a Marlys e a Sheila, peregrinas de São Paulo.

Passei pela Ermita de San Nicolas de Puente Fitero, onde funcionava um hospital e hoje é um pequeno albergue... comentam que à noite os hospitaleiros fazem a cerimônia do lava-pés ... quase fico aqui, mas decidi prosseguir...


Logo após a ermita, encontrei a ponte sob o Rio Pisuerga, construída no século XI. Neste exato ponto saímos da Província de Burgos e entramos em Palência



Interessante os diferentes tipos de sinalização do Caminho, de província para província há alguma pequena mudança. Fato: muito difícil o peregrino se perder!

Percorridos 31 Km, decidi que iria pernoitar em Itero de La Vega. Após esta esticada meu corpo respondia bem, sem sentir dores. Diminuir a kilometragem no dia anterior foi uma ótima estratégia para recompor as energias e restabelecer minha condição física. Lição: "ouça" o seu corpo e não hesite em recuar para avançar mais a frente!


É um povoado bem simples... tudo o que eu queria! Não chega a 200 habitantes, conta apenas com dois albergues, um hostal, um restaurante e um mercado. Outra boa notícia foi que tinha cobertura grátis de wi fi em quase todo o povoado. Aproveitei para falar a vontade com a família através do ipod (facetime), deu para matar a saudade de casa!


Me instalei no albergue La Mochila, privado, básico do básico, ao custo de 6 euros. Possui 5 quartos e, pela minha contabilidade, pernoitaram cerca de 10 peregrinos neste dia... fiquei sozinho no quarto, apesar de contar com 3 beliches.

Após um demorado banho frio, o calor estava demais, fui cuidar de uma bolha localizada no dedo mindinho... tentei por alguns minutos enfiar a linha na agulha, mas não consegui... não tinha achado meus óculos na mochila. Então fui ao quarto do lado procurar ajuda, e encontrei um casal da Coréia, ela só falava coreano e ele pelo menos arranhava no inglês... pensem que confusão para eu pedir ajuda nesta empreitada!
Final da história: depois de muita mímica, ele acabou me presenteando com uma agulha nova e já com a linha enfiada, das 10 que levava em seu estojo! rsrsrsrsrs

O albergue não tinha máquina de lavar, o que não foi problema... possuía uma boa área de serviço.

As hospitaleiras Dolores e Maria, muito solícitas e gentis, me ofereceram sabão pedra, pois o meu havia acabado... ai já viu né? mão na água e barriga no tanque!


Normalmente só almoçava e, à noite, fazia algum lanche com frutas e suco. Neste dia optei em jantar, sendo que às 19 horas foi servida uma paella... pense na saudade que deu da "terrinha", aliás, da paella da amiga Márcia Azoubel, isso sim é que é paella! rsrsrs
Este jantar foi inusitado, pois nesta noite no albergue só havia eu de brasileiro. Imaginem como foi bom estar numa mesa com um casal de coreanos, dois irlandeses e um suiço. Línguas diferentes, culturas diferentes, histórias de vida diversas, mas com o mesmo objetivo: peregrinar a Santiago de Compostela!



10 comentários:

  1. MARAVILHA,DEUWS TE PROTEJA SEMPRE.

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  2. Beleza Comandante, estou absorvendo todo conhecimento que o Senhor relata, hoje caminhei novamente em Pituaçu, só faltou o Senhor e toninho que disse que ia, mas lá não apareceu.
    Abraço estou no aguardo de outros relatos
    Baqueiro

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    1. Olá aspirante a peregrino, rsrsrs, já separei o material para conversarmos, se possível nesta semana entrante.

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  3. Obrigado por compartilhar conosco esse eblo caminho, fiz em 2008 e tenho certeza que ele me chama nocamente todas as vezes que visito o seu blog Abs peregrino Helena desde Americana-sp

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  4. Que todos os seus "Caminhos" sejam abençoados !!!

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    1. Valeu, já estava sentindo falta de seus comentários! rsrsrsrs

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  5. Viajo com o jeito realista e simples de seus relatos, acho legal contar tudo, inclusive a parte "sofrida" rs. Agradeço muito por compartilhar. Abraços

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