domingo, 16 de setembro de 2012

Pamplona a Puente La Reina (28,5 Km)



Via Ermita de Eunate (02/05/12): etapa de muita oração e do perdão!

Sai exatamente quando o dia estava clareando, às 06:40 Hs. Na noite anterior vi o céu cheio de estrelas, sinal que iria pegar tempo bom durante o dia. 
O peregrino deve tomar cuidado ao entrar e sair das cidades grandes. Pamplona é um exemplo disto, pois possui muitas placas próprias da cidade, que se confundem com as do Caminho de Santiago. Em algumas vezes me deparei somente com setas no meio-fio das calçadas.




Bastante frio logo na saída, mas nada que um "anorak" e luvas não resolvessem a situação.
 






Após 5 Km, entrada de Cizur Menor, cidade pequena mas com uma boa estrutura





Antes de subir o Alto del Perdón, fiz uma parada básica para descanso e lanche, pois começaríamos uma subida de 4 Km.
No meio da subida passamos por Zariquiegi, localidade de uma rua só, mas muito ajeitada e limpa, onde me abasteci de água.
Nesta foto ainda estava sem os ensinamentos do fotógrafo profissional Moizés (DF): enquadramento, foco, luz, etc etc rsrsrsrsrsrs
Fonte d'água em Zariquiegi

Conta-se que no monte chamado de Alto do Perdón existiu uma ermita, que serviu de hospedaria de peregrinos (Sec XIII), a qual era dedicada à N. Sra. do Perdão. Os peregrinos consideravam que as graças recebidas por alcançar a ermita, eram as mesmas que as obtidas por finalizar a peregrinação em Santiago de Compostela, isto é, era concedido o perdão dos pecados e garantida a saúde espiritual no caso de morte durante o trajeto restante.
Ávido para ver a tal ermita... ao chegar no topo... olhei para um lado, olhei para o outro... e nada! depois soube que ela tinha desaparecido durante a Guerra da Independência Espanhola (Sec XIX)... que pena!!!









A subida é íngrime, e neste dia, apesar do sol, estava com muita lama!
A paisagem do monte é caracterizada por dezenas de aerogeradores. Não só ali, mas por toda Navarra vimos diversos parques eólicos.



Chegando ao ápice do Alto do Perdón, nos deparamos com um conjunto de esculturas, formado por 14 silhuetas em tamanho natural, feitas em chapa de ferro, representando um grupo de peregrinos, a pé, a cavalo e de burro, de cujas lanças nascem raios de luz e estrelas, e atrás vê-se os geradores eólicos. No texto que acompanha a obra pode ler-se: "Donde se cruza el camino del viento con el de las estrellas", ou seja: "onde se cruza o caminho do vento com o das estrelas"...

Fiquei aqui por 40 minutos, os quais passaram rapidamente, e neste momento fiz algumas orações.
- pedi perdão a minha família...
- pedi perdão aos meus pais que já estão em outro plano, por não ter aproveitado mais momentos com eles...
- pedi perdão aos meus amigos por alguma ofensa ou comportamento mal compreendido...
- pedi perdão aos meus colegas de trabalho, os quais no dia a dia convivem comigo e dividem as angústias e dificuldades diárias...
- pedi perdão ao próximo, por não ter lhe estendido a mão em algum momento de sua vida...
- enfim, pedi perdão por todos os meus pecados, os mais profundos, individualizados e insabidos até por mim mesmo.
E é claro que nesta parada não deixei por menos, alonguei, tirei as botas, enxuguei os pés com alcool romeiro e troquei as meias que estavam encharcadas de suor. A pequena bolha tratada no dia anterior nem dava sinal de vida.


Se a subida foi dura... imaginem a descida... muitas pedras soltas... isto para os joelhos é terrível! muita calma nesta hora!




E olhem ai, a recompensa veio com estas lindas paisagens:

 





Próximo a Uterga existe uma imagem de Nossa Senhora, com uma placa contendo a seguinte frase:




"Virgen Maria:

Haz que:

- Yo busque a Jesús

- Que encuentre a Jesús



- Que ame de verdade a Jesús"
   

Uterga é uma cidade pequena, mas com relativa estrutura para os peregrinos, achei interessante este par de botas deixado num banco por algum peregrino...
Parei alguns momentos para observar o movimento dos pássaros entrando e saindo dos seus ninhos num telhado de uma casa na praça central:

Após a descida e com um sol escaldante, foi providencial uma parada no próximo ponto de apoio. Neste caso foi o Albergue e Restaurante Camino Del Perdón, ainda em Uterga.
Brindando o caminho com o Alexandre, mineiro de BH que conheci logo em Zubiri, caminhamos várias etapas juntos. Verdadeiro amigo, dos inúmeros que fiz nesta aventura... companheiro, alegre, sensível, torcedor aficcionado do "galo" (mesmo no caminho acessava a net para saber notícias), sempre presente e atento em ajudar o próximo, com o seu inseparável GPS de pulso, mas quando precisávamos... vez ou outra não funcionava, pois a bateria estava descarregada! rsrsrsrs
Subida para Muruzabal


Alexandre com sua mega mochila... antes dele desfazer de alguns trecos! hehehe
Chegando em Muruzabal, cidadezinha simples e agradável
Em Muruzabal pegamos uma variante para a Ermita de Santa Maria de Eunate, são 2 Km para ir e mais 2 Km para pegar o Caminho mais adiante. Claro que fui por esta variante!
 





Variante para Eunate
A Ermita de Eunate é imperdível!
Sai de Salvador decidido a passar em Eunate, e valeu muito a pena! Cheguei esbaforido, agoniado e sob um sol muito quente, pois é um trecho sem nenhuma sombra. Vivenciei um dos momentos mais emocionantes do meu Caminho. 
Trata-se de uma igreja românica, com forma octogonal, circundada por um muro também no mesmo formato e cujo nome em euskera(língua antiga basca), significa "cem portas".
Dentre as muitas lendas a respeito de Eunate, contam que era uma capela mortuária da rainha responsável pela sua construção. Dizem, ainda, que já serviu de cemitério para peregrinos.
Falar de Eunate é falar de paz de espírito, de muito silêncio, introspecção, calma, tranquilidade, enfim, uma sensação muito boa.
Tive considerável dificuldade em sair de Eunate. Não queria ir embora, sentimento bom danado! Dei umas 4 a 5 voltas pelo exterior da Ermita, contemplando-a. No seu corredor faz uma sombra maravilhosa, tirei a mochila e deitei alguns poucos minutos... transmissão de muita paz! Só saimos porque o zelador estava fechando-a, pois o horário da siesta é sagrado.






Linda mensagem colocada sob uma foto no interior da ermita
 






Existe um pequeno albergue logo atrás da ermita. Deve ser muito bom dormir ali com aquele clima de paz... bem longe do barulho dos centros urbanos. 



Percorridos 2 Km de volta, já em Óbanos, travei uma calorosa discussão com o Moizés(DF), mas de altíssimo nível (rsrsrsrs), ele afirmando que o Caminho Francês cruzava com o Aragonês nesta localidade, e eu dizendo que era em Puente de La Reina... isto durou por quase o dia inteiro rsrsrsr, motivo de gozação por alguns dias!

Gosto muito de observar e registrar cenas do cotidiano da população de cada local. Esta é uma delas!


Monumento na saída de Óbanos

Logo na entrada de Puente La Reina existe o Albergue Jakue (privado), mas preferimos ficar no Albergue de Peregrinos dos Padres Reparadores (municipal), ao preço de 4 euros. Instalações antigas, mas bastante limpas e conservadas, com pouquíssimos chuveiros, resultando em filas enormes para o banho.
Calle Crucifijo 1, Planta Baja 31100 - Tel 34 948-340050

Puente La Reina é uma cidade tipicamente "jacobea", limpíssima, com ruas largas e também com alguns becos e vielas.








Um dos pontos marcantes da cidade é a ponte medieval, com cinco arcos, construída em pedras, no século XII a mando da rainha Doña Mayor também chamada Doña Munia, com o objetivo de facilitar a travessia dos peregrinos pelo rio Arga.
Visita imperdível é a Iglesia Del Crucifijo, construída pelos templários, onde se encontra uma magnífica escultura em madeira de um crucifixo celta, em forma de "Y", feito no século XIV. Muito bonito e diferente!

 



O almoço/janta foi no Restaurante do Albergue Jakue. Comi um dos melhores menus de peregrino do Caminho, com preço alto de 11,50 euros, mas valeu a pena. Vejam só: primeiro prato buffet livre de salada e fetuccine com alguns tipos de molhos; no segundo, uma bochecha de cerdo, deliciosa e muito macia, soltando facilmente do osso; sobremesa sorvete ou pudim, além do tradicional vinho, tudo incluso.



Da esquerda para a direita: Amarildo(RN), Kerjean(BA), João(DF), Alexandre(MG) e Carol(DF).