quinta-feira, 28 de março de 2013

Terradillos de Los Templários a El Burgo Ranero (30 Km)

Etapa 17 (15/05/12) - Aprendendo a conviver com a dor 

Incrível o que aconteceu nesta etapa. Ao levantar senti um pouco de dor no tendão que não passou nem mesmo com o alongamento. Com a preocupação da dor, esqueci de tirar a máquina para sacar algumas fotos do início da caminhada... só fui tirá-la do bolso quase 10 Km depois, não registrando os pequenos lugarejos de Moratinos e San Nicolás Del Real Camino...
De longe já dava par ver Sahagún...

Sahagún é uma cidade de tamanho considerável, conta com aproximadamente 4.900 habitantes. Possui inúmeros monumentos e igrejas, passei rápido e não deu para contemplá-la melhor. É considerada o centro do Caminho, mais ou menos a metade do Caminho Francês.
Interessante, em algumas etapas do Caminho observei que é bastante comum a prática de ciclismo em equipes... algumas com boa estrutura de apoio (mas não eram peregrinos).

Esta é a antiga Iglesia de La Trinidad, hoje funciona o albergue municipal.
Poucos metros depois passei pela Iglesia de San Juan de Sahagún, dedicada ao padroeiro que leva o mesmo nome.
Estava frio apesar do sol tímido, estimo uns 10 graus, precisava esquentar um pouco... e vejam o que apareceu: Confitería Asturcón (Av de La Constituición, 62), pense num lugar que sai folhados de primeira qualidade e um capuccino delicioso!
Olhem aí o Arco de San Benito: cartão postal da cidade, imponente e bastante conhecido pelos peregrinos.  Popularmente é atribuído a função de entrada para o mosteiro, mas na realidade, ele está de frente para o portal meridional da igreja. Obra no estilo barroco de Eduardo Saavedra em 1662.
Quase saindo de Sahagún cruzei por uma ponte em estilo romano sobre rio Cea.


Após este bosque virá uma importante placa indicativa... O peregrino deverá decidir se continua pelo caminho principal ou se pega uma variante por Calzada Del Coto saindo bem lá na frente em Mansilla de Las Mulas, a chamada variante Calçada Romana.
Optei em continuar pelo caminho principal, o mais usado pelos peregrinos. Para isto cruzei a rodovia logo após esta placa que fica na altura do viaduto que vai para Calzada Del Coto.

Daqui em diante passei por um considerável e monótono andadero, onde se vê muitas árvores plantadas de 5 em 5 metros... uma pena ainda não oferecerem sombras!



Uma das diversas áreas de descanso ao longo desta etapa, neste caso a de Bercianos Del Real Camino.
Logo na entrada do povoado fica a Ermita Nuestra Señora de Perales, construída no século XVIII.
Fiz uma rápida parada num bar. Motivo: tendão doendo muito!

E mais andadero pela frente...


Cheguei em El Burgo Ranero após exatos 30 Km e 8 horas de caminhada. Acredito que não aguentaria mais nenhum metro, tão intensa era a dor no tendão...

Traduzindo literalmente Burgo Ranero significa “cidade dos sapos”, dizem que é devido à existência de muitas terras alagadiças próximas ao povoado. É pequeno e sua população não chega a 800 habitantes


Me instalei no Albergue Municipal Domenico Laffi, muito simples e pequeno. Não cobra o pernoite, ficando a critério do peregrino dar donativo... Observação importante: por todo o Caminho são muitas as dificuldades dos hospitaleiros em manutenir os albergues. Neste, contribui com 5 euros.
Quase não me instalava, pois sua capacidade é de somente 28 lugares... o Alexandre(BH) foi o penúltimo e eu o último. A cidade só dispõe de mais outro albergue.


Na pracinha do povoado encontrei o casal de Curitiba, o Ricardo e a Jô, me convidando para conhecer o albergue em que estavam instalados...


Tratava-se do Albergue La Laguna, situado na saída do povoado, também pequeno, com apenas 18 lugares em apartamento coletivo, mais 5 apartamentos duplos, tipo casinha, feitos em madeira... achei muito interessante!



Será que a bolha estava doendo muito? hehehehe
Aproveitei tranquilamente a visita para relaxar os pés e tendões em água fria, estes, estavam doloridos... foi uma maravilha!
Voltando ao meu albergue, encontrei a Sheila e Marlys, ambas de Sampa, que posaram para a foto alegremente, mas tinham acabado de receber a notícia que os albergues estavam lotados... terminaram se hospedando numa casa rural por perto!

No gramado ao lado do albergue encontrei uma boa sombra para descansar.

sábado, 23 de março de 2013

Carrion de Los Condes a Terradillos de Los Templários ( 26,7 Km)

Etapa 16 (14/05/12): Dia de tolerância e paciência com o próximo!

Iniciando o dia com esta cara de assustado, mas fazendo pose junto ao Monumento al Peregrino...
Que beleza de amanhecer... como é lindo!


 
Aqui começa uma longa estrada de terra, explico o "longa": são 17,2 Km sem nenhum ponto de apoio e com raríssimas sombras... pelo menos é esta informação que encontramos nos guias e com os peregrinos que já fizeram o caminho.
Por isso que saí cedo e bastante precavido, ou seja, com frutas e água a vontade. Aconselho ao peregrino saber pelo menos as informações básicas sobre a etapa que irá cumprir a cada dia!

E tome-lhe estrada a dentro...
Não é que percorridos uns 10 Km aparece um casebre quase do nada? Pois é, o proprietário/inquilino teve a boa ideia em comercializar frutas, chocolate quente, suco, ovo e sanduíches.
Mesmo desligado das notícias do Brasil, vou contar uma pequena história que aconteceu justamente neste ponto. Na noite anterior, em Salvador, foi a decisão do campeonato baiano de futebol entre Bahia X Vitória. Acordei sem saber o resultado e nesta breve parada, o Alexandre(BH) telefonou para o Ivo(BA), seu cunhado e torcedor rubronegro, o qual deu a seguinte notícia: "o Baahhêêêaa sagrou-se campeão!". Comemorei muito a notícia, prometendo que beberia uma taça de vinho na próxima parada. BBMP!

Retornando a meu caminho, observei que a administração local tem adotado medidas para amenizar esta cansativa etapa, disponibilizando aos peregrinos pontos de apoio como este abaixo:
Seguindo estrada... trigais já arados de um lado...
... e trigais em crescimento do outro...



Após os 17 Km chegou em boa hora a poblacíon de Calzadilla de La Cueza. Bem pequena e com poucos serviços, dei uma parada que foi providencial para descansar e refrescar o corpo.
Bem na saída do povoado sentei-me num bar que estava quase vazio.
De repente começaram a passar peregrinos, na sua maioria brasileiros conhecidos em outras etapas, que não hesitaram e também pararam neste local.
Comemorando o título do Bahia com o João (DF)
Dênia(MT), Almir(DF) e Alexandre(BH)
Sandra(DF), Marlys(SP) e Arilton(SC)

Edilson(ES) mandando ver! rsrss
Contabilizei a parada de 15 peregrinos brasileiros... foi realmente um festa, parecia que nos conhecíamos há anos, a cada momento que um chegava e se juntava ao grupo, eram abraços, beijos, apupos e cumprimentos!  
Após merecido descanso, segui caminho, agora margeando por um bom tempo uma carretera, a N-120...

 
Passei por Lédigos, pequena poblacíon cuja população não chega a 80 habitantes, com estrutura básica para peregrinos.
A igreja paroquial, que estava fechada, possui representações de Santiago: Santiago Peregrino, Santiago Apóstolo e Santiago Matamoros. 

Estava bem fisicamente e, na saída do povoado, encontrei a Regina Sá(SC) num ritmo muito acelerado, passou por mim como um foguete. Disse-lhe que pernoitaria na próxima cidade, cerca de mais 3 Km, e ela respondeu que iria ainda à Sahagun, mais 15 Km... grande guerreira e exemplo de perseverança! Em postagem mais adiante porei sua foto.
Logo cheguei a Terradilhos de Los Templários. Na entrada encontra-se um dos dois únicos albergues existentes na localidade. 
Terradillos não possui muitos atrativos, é um típico povoado de pernoite de peregrino. Os moradores se vangloriam que foi neste local que os templários guardavam uma galinha que botava ovos de ouro e que ao morrer foi ali enterrada.
Optei em ficar no segundo albergue que estava melhor localizado - Albergue Jacques de Molay, privado, ao custo de 8 euros, aconchegante, amplo, muito limpo, com 9 quartos e capacidade para cerca de 50 peregrinos.


Fazia parte da minha rotina não dormir à tarde, mas ao ver este quarto todo arrumado, bem arejado, não consegui me conter... literalmente curti uma siesta a la espanhola... hehehehe. Fui acordado por um peregrino francês que falava muito alto ao celular... respirei fundo, contei até mil... levantei-me e não lhe falei nada, só fiz olhar... aliás, este olhar deve ter falado algo... rsrsrsrsrs.
Mais uma lição: no Caminho você vai encontrar pessoas dos mais variados lugares e com diferentes costumes. Sem sombra de dúvidas será um exercício pleno de tolerância e paciência com o próximo! 

(In)Devidamente acordado fui dar uma volta pelo povoado, que é muito pequeno e quase deserto. Cruzei por estas três senhoras e conversei um pouco com elas. Falaram, com certa tristeza, que a vida naquele lugar é pacata e que seus parentes moram nas cidades maiores, só vindo veranear no período de férias escolares dos netos.

Voltei ao albergue e fiquei sentado embaixo de um destes sombreiros, relaxando os pés numa bacia com água fria. Numa mesa ao lado, um casal de peregrinos alemães me chamou para acompanhá-los em uma taça de vinho rosado de primeira qualidade... foi um bom papo, recheado de muitas mímicas! rsrsrsrs

O albergue dispõe de uma sacada, que invariavelmente torna-se ponto de encontro dos peregrinos... adorava este momento do Caminho - a troca de informações e experiências!


Ainda sol... eram 20 horas, estava terminando dois dos afazeres diários da minha rotina: revendo percurso do dia posterior e escrevendo o meu diário!