domingo, 23 de dezembro de 2012

Nájera a Santo Domingo de La Calzada (21 Km)


Etapa 9 (07/05/12): A cidade do galo...
Sol aparecendo e pé na estrada... muitos peregrinos na saída de Nájera... e eu ainda de sandália, as bolhas da queimadura ainda não estavam secas!



De passagem em Azofra, pequena localidade com no máximo 250 habitantes, avistei um grupo de trabalhadores que estavam se preparando para entrar de serviço numa obra de recuperação de rodovia próxima. Ao passar foram muitos cumprimentos, advinhem de que forma? "Buen camino! buen camino!!".


Após Azofra, só deu paisagens bonitas, vejam só:

Trabalhadores que me cumprimentaram em Azofra, pegando pesado!
Disputando o caminho com o tratorista. Claro que parou para que o peregrino passasse!

Esta é a Simone, mora em Perdizes/São Paulo, que de passagem comentou que pretendia fazer o caminho em no máximo 15 dias... estava levando consigo apenas 11 Kg de bagagem! Por alguns minutos nos acompanhou bem devagar, a fim de recuperar o fôlego.
Muitos peregrinos paravam para descansar e aproveitavam para sinalizar o caminho.
Percorridos 15 Km desde a saída, surge outra pequena cidade, Cirueña, ainda bem, pois já queria parar para alongar e também fazer um lanche.

Eis que, descobri que a cidade, apesar de dispor de somente 90 habitantes, possui uma atração turística que é o Rioja Alta Golf Club, um belo e conservadíssimo campo de golfe. Aproveitei a parada para saborear um sanduiche com parma regado a um gran reserva da Rioja.




Pé na estrada novamente, e neste trecho pensei como foi boa a invenção da máquina digital, dezenas de fotos de paisagens belíssimas, que funcionaram como um colírio renovador de estímulo e força de vontade para continuar a peregrinação sob a predominância de muito sol e de poucas sombras!



Santo Domingo de La Calzada ao fundo, destino final do dia! Cidade com 7.000 habitantes, muito agradável e com importante valor turístico.


Já na entrada da cidade, aproximei-me de um casal de estrangeiros, que andavam bem devagar e muito próximo um do outro. Só reparando bem e após algum tempo, vi que ele era deficiente visual e a esposa era o seu guia. Muito bonito e emocionante!

Avistei esta placa interessante: divulgando uma corrida de touros que estava para acontecer na cidade na semana seguinte. Uma das tradições ainda existente na região.


Chegamos relativamente cedo, por volta das 11:15 horas, resultado: fila para a abertura do albergue que só abriria ao meio-dia. Desta vez foi o Albergue Casa Del Santo, Calle Mayor, 38 bajo, tel 941343390. Por fora tem aparência de antigo e pequeno, mas por dentro é muito moderno, limpo, completo e espaçoso (162 lugares). Tem até elevador para acesso aos quartos.



Desde o primeiro dia da minha caminhada adotei uma prática: ao sair cedo, começava minhas orações mas não esquecia de deixar uma marca da Bahia onde passava. Na fachada dos inúmeros albergues em que me hospedei, nas portas ou janelas, amarrava a famosa e tradicional fitinha do Senhor do Bonfim! Momento em que sempre lembrav da minha terra.

Em frente ao albergue com Amarildo e Carol
De repente passa por nós um grupo de pessoas, cantando, proferindo palavras de ordem ao som de tambor. Fiquei sabendo mais tarde que se tratava de uma espécie de procissão, pois estávamos na semana em comemoração a Santo Domingo de La Calzada, padroeiro da cidade.

Próximo à catedral da cidade, está localizado o Parador Hotel de Santo Domingo da La Calzada, um suntuoso hotel 4 estrelas, em estilo medieval, que no século XIII funcionava como um hospital para peregrinos. Em 1965, o prédio foi restaurado como um Parador.

Antes de ir à missa, tratei de visitar a Torre da catedral - uma das poucas no país que não está no mesmo prédio da catedral; com 70 metros de altura, é a mais alta da Rioja. Imaginem subir 172 degraus... mas valeu a pena, pois de lá de cima dá para ver toda a cidade...

 



Fachada da catedral
Já na catedral, cena pitoresca chama atenção: um galo próximo ao altar.. explico transcrevendo um pouquinho da lenda do galo em Santo Domingo de La Calzada:

"Contam que no século XIV, um  jovem efetuava a sua peregrinação a Santiago de Compostela acompanhado pelos seus pais. Num dos albergues do caminho  em que pernoitaram, o jovem mostrou-se indiferente às investidas de uma camareira. Ela, por vingança, colocou em segredo uma taça de prata na bagagem do rapaz. Na manhã seguinte a mulher chamou os guardas e acusou o jovem de furto. O rapaz foi julgado, condenado e em seguida enforcado. Porém, quando seus pais foram até o patíbulo para recolher o corpo, ouviram a voz de um Anjo anunciando que Santo Domingo havia conservado a sua vida. Os pais do jovem imediatamente procuraram o juiz da cidade e pediram que o rapaz fosse liberado, pois estava vivo e em boa saúde.
O juiz estava à mesa e não acreditou na história do casal. A sua incredulidade fê-lo exclamar: Solto vosso filho quando este galo cantar novamente - disse o juiz apontando o assado que tinha sobre a mesa. Nesse mesmo instante o galo cobriu-se de penas e começou a  cacarejar e a cantar saindo correndo. O juiz soltou o jovem. Desde esse dia, na catedral de Santo Domingo de la Calzada, alguns galos de penas brancas são mantidos vivos junto ao altar, num alambrado. Ao entrar na Catedral, se você ouvir o galo cantar, é um sinal de que a sua peregrinação será bem sucedida."

Claro que o galo cantou para mim! rsrsrsrs

Belo coral
Momento final da missa em que todos ficam em volta da imagem do santo para a última oração
Santo Domingo de La Calzada