sábado, 18 de agosto de 2012

Roncesvales a Zubiri (21,8 Km)

Rompendo a madrugada, enfrentando o medo do escuro...

A dormida no albergue de Roncesvales não foi das melhores. Acordei algumas vezes durante a madrugada (4 somente rsrsrs), não pelos vizinhos, pois a privacidade neste albergue é relativamente boa com pequenas habitações de 2 beliches. Estava muito cansado e o corpo pedia cama, mas acredito que minha agitação deveu-se ao "estranhamento" do local, passada a fase de euforia inicial. 
Fato: eu estava no meu sonhado caminho.
Sai com o dia ainda escuro e com muita chuva. Pedi a hospitaleira que me ajudasse a arrumar o poncho, pois ele insistia em me dar uma "surra", passei uns 10 minutos para ajustá-lo corretamente.
Saindo do albergue de Roncesvales...
 Em frente ao albergue, olhei para um lado: nenhum peregrino, olhei para o outro: também ninguém, esperei por uns 5 minutos e finalmente apareceu um americano. Pedi para tirar uma foto junto à placa de 790 Km, que, com um leve retoque deu para clareá-la e ver pelo menos o meu rosto e a tal placa! rsrsrsrsrsrs. 
Ao sair de Roncesvales, peguei um bosque bem sinalizado, bastante fechado por muitas árvores e, pelo horário, estava tudo escuro. Com tamanha escuridão fico devendo a vocês esta foto! 
Quando menino sempre tive medo do escuro... sozinho, aqui, por várias vezes lembrei-me da minha infância... mas não tive medo, a sensação foi muito boa, não foi desagradável, pelo contrário, pareceu-me uma vitória muito gostosa!!!
Logo mais adiante, após 3 Km de caminhada, cheguei em Burguete, cidadezinha pequena e limpa, parecia que estava na Alemanha.


Companheiro de jornada: o poncho!


A etapa foi muito solitária, sai cedíssimo (05:45 hs), não tendo companhia de muitos peregrinos, vez ou outra algum passava por mim. Apesar do tempo chuvoso, deu para contemplar bastante as paisagens. Vejam algumas delas: 







IRATI: cidadezinha bonitinha da etapa
Vista de BIZKARRETA-GERENDIAIN: outra muito bonita
Antes de chegar em Zubiri há uma descida radical, com extensão de 3 Km, e neste dia haja lama!!!
Zubiri do alto e ao fundo

Chegando em Zubiri encontrei um grupo de estudantes acompanhados por um professor. Interessante: eles fazem algumas pequenas etapas do caminho, também nos finais de semana, como se fossem aulas de campo de determinadas matérias; mais adiante deparei-me com outros grupos. Fizeram questão de ser fotografados comigo.

Fui o primeiro a chegar no Albergue, Zaldiko (Puente de la Rabia, 1 bajo - 31630 - Navarra, Tel. +34 609 73 64 20) que fica bem na entrada da cidade. Privado, com o preço de 10 euros, 4 beliches por quarto, com instalações bem conservadas, e wi fi gratis (no meu caso muito importante, pois levei um ipod touch, o qual servia para alguma comunicação via skype com a família no Brasil). Neste albergue conheci a Maria Eugênia, uma das melhores hospitaleiras do caminho, que nos tratou sem cerimônias, como se estivéssemos em casa, forneceu informações sobre o caminho e em particular sobre Zubiri é claro! (pena que não tirei uma foto dela!!).

Fachada do albergue com a tradicional fileira de botas a secar...
Na foto abaixo, com o Moizés, de Brasília(DF), grande amigo que fiz no caminho, aliás, não só amigo, foi realmente um pai, falarei mais sobre ele e sua esposa (Carol) adiante. Eles estavam no caminho pela segunda vez, e me indicaram o Zaldiko.
Rio Arca bem pertinho do albergue
Devidamente tratadas...
Após a caminhada é de fundamental importância cuidarmos dos pés, verificar o aparecimento de bolhas e, se for o caso, tratá-las devidamente (aqui ainda estava sem elas). Bom mesmo foi colocar os pés para tomarem um banho de sol, pois passaram quase 5 horas dentro da bota e com relativo esforço (rsrsrsrs).
Dizem e concordo: o tempo no caminho é meio louco, voce passa pelas quatro estações do ano em 30 dias! Nesta etapa, caminhei quase 95% na chuva, e ao chegar na cidade estava fazendo um sol lindo. Imaginem agora: por volta das 17 horas, bem em frente ao albergue, começou esta chuva de granizo, que durou uns 5 minutos, vejam só:

Na foto a seguir, presença marcante de vários brasileiros no jantar do Gau Txorj Hostal, a rede foi se formando... aos pouquinhos postarei aqui todos os amigos que fiz no caminho...

Algumas pessoas perguntam como era meu café da manhã: normalmente, durante à tardezinha, saía para comprar os ingredientes para janta/café da manhã seguinte, que consistia em um bocadillo (sanduiche), com queijo, jamon ou presunto, suco de laranja e uma fruta, isto na Navarra, província (região) inicial do caminho pela Espanha;  com o tempo veremos que a alimentação variou de acordo com a província.
Proprietário da tienda preparando "higienicamente" o bocadilho

Antes de sair de Salvador, ganhei de presente da amada, um cartão de visita, a fim de facilitar a troca de informações com os diversos peregrinos que iria conhecer no caminho, bem como era um meio para divulgação deste blog. Quando o albergue possuia algum mural não abria mão de deixar a marca da Bahia/Brasil!!!!!
Cartão de visita foi uma idéia muito boa. Olha eu aqui geeente!!!!

Próxima etapa: chegando em Pamplona... aguardem!!!!








domingo, 5 de agosto de 2012

Começando a minha caminhada...


 Saint Jean Pied de Port(SJPP) a Roncesvales (24,9 Km) 

Esta foi a primeira etapa do caminho, cerca de 25 Km, destes, 22 de subida, percorridos em 07h50m. Sai pontualmente às 07:00 hs, dia maravilhoso, apesar de muita chuva no dia anterior, o céu estava limpíssimo, poucas nuvens e o sol começara timidamente a aparecer.
Ao sair do albergue, após um demorado alongamento, fiz algumas orações, pedindo ao Grande Arquiteto do Universo a proteção durante toda a jornada que estava por se iniciar, orações estas que fazia todos os dias, não só no início, mas durante o percurso, ao término e à noite ao dormir, não tinha momento determinado para orar; ELE sempre estava presente no meu coração e nos meus pensamentos. 
Saída de peregrinos de SJJP

Subidas... 
mais subidas...
e mais subidas...
Após mais ou menos duas horas de caminhada cheguei em Orisson, a 7 Km de SJPP, um local com uma vista deslumbrante, onde tem um refúgio bem pequeno. Algumas pessoas optam em sair um pouco mais tarde de SJPP e pernoitam neste albergue, achei a distância muito pequena para fazer esta opção. Mas dei uma paradinha básica, alonguei, aliás, sempre fazia isto, parava a cada 2 horas ou 10 Km de caminhada para o necessário alongamento.Tirei muitas fotos, carimbei a credencial e aproveitei para sorver um delicioso vinho branco contemplando a grande extensão do vale.
Refúgio de Orisson
Visão do mirador do refúgio
Sensação de liberdade estupenda!
A sensação de subir os Pirineus é simplesmente maravilhosa e única, pena que andei um pouquinho rápido, por conta ainda da minha constante companheira: a ansiedade, uma das maiores inimigas do meu caminho... Controlá-la sempre foi um dos principais desafios desde a saída de Salvador. Ainda bem que ela foi se esvaindo com o passar do tempo.
Marco da fronteira entre a França e a Espanha
Atente para o refúgio (casinha ao fundo). Nos Pirineus existem duas destas, caso o tempo mude radicalmente servirá de abrigo para os peregrinos

Além de proteção serve de ponto de parada para descanso
A emoção do encontro com a natureza é indescritível e inevitável, vegetação bastante verde na maioria da etapa, vacas em pastos, ovelhas e muitos pássaros durante o trecho. O tempo nos Pirineus é muito inconstante, saí com o sol tímido, peguei céu claro, e, de uma hora para outra virou, com fortes rajadas de vento; ainda tinha um pouco de neve, pois o mês de maio já não é mais inverno, o gelo vai derretendo e a paisagem se enche de pequenas cascatas. Parei várias vezes para descansar e ouvir o canto dos pássaros, bem como o melódico som das águas correndo destas cachoeiras, descendo montanhas abaixo.
Cascatas que parecem fotos artificiais
Tapete de folhas


Muito verde!

Contrastando com um pouquinho de neve mais adiante

Roncesvales é uma localidade muito pequena, contando somente com um albergue, chamado de Colegiatta; fiquei na parte nova dele, com instalações excelentes, do dormitório aos sanitários, com várias máquinas auto-services com tudo o que é tipo de alimentação e bebidas, além de uma completa cozinha.
Roncesvales ao fundo, já chegando? que nada, mais 01h30min de caminhada!
Colegiatta - Albergue de Roncesvales
Lavanderia: rotina diária do peregrino
Impressionante mesmo foi a quantidade de materiais, equipamentos, remédios e tantas outras coisas deixadas pelos peregrinos. Após várias subidas nos Pirineus o peregrino nota que a sua mochila está pesada e que ainda faltam pelo menos quase 30 etapas a serem cumpridas. Na foto abaixo, muitos materiais, tinha até panela (rsrsrs); bom mesmo é o sentido de cooperação entre os peregrinos, deixavam na mesa e qualquer um que estivesse precisando poderia pegar o que quizesse.
Mesa na saída do alojamento

Todos os dias, às 18 hs, é celebrada uma missa, ocasião em que é dada a benção aos peregrinos, nominando as nacionalidades de todos. Neste dia foi celebrada por 4 padres, muito bonita e emocionante.


Ainda sobre os Pirineus: discordo totalmente dos que falam que ele é um bicho de sete cabeças e muito difícil de fazê-lo (pelo menos no mês de maio, sem neve). Sabendo subir pausadamente, ou seja, dosando a sua velocidade de caminhada e parando algumas vezes, dará para aproveitar muito bem todo o trajeto, e, com certeza, chegará em Roncesvales totalmente inteiro.