Burgos a Hornillos Del Camino (20,5 Km)

Etapa 13 (11/05/12): agradecimento a Deus!

Na noite anterior tomei a decisão que nesta etapa só iria caminhar aproximadamente 20 Km, pois as panturrilhas ainda estavam doendo, muito duras e difícil de relaxá-las somente com alongamento. Na saída, próximo à catedral, tive a certeza de que elas não aguentariam muito naquele dia, ainda estavam doloridas. Tomei um analgésico e antinflamatório, ainda por causa da tendinite, e sai bem devagar...

A saída de Burgos é mal sinalizada, aconselho prestar bastante atenção nas poucas indicações para o peregrino.

Ponte sob o Rio Alarzon

Após uns 15 minutos é que realmente saímos da zona urbana...

Passando por debaixo de um grande viaduto, observei este par de botas deixado por algum peregrino, em perfeito estado de conservação... o sentimento de solidariedade está presente por todo o Caminho - se não serve mais para você, com certeza servirá para o próximo!

Já duas horas de caminhada, momento de descansar e repor energia com metade de um sanduíche (sobra do café da manhã) e mais um isotônico.

 

Lembram daquele andarilho que encontrei no sétimo dia de Caminho, na saída de Logroño? pois é... olha ele ai com seu cachorro! já com muitos equipamentos, certamente doados por  peregrinos...

Passei por Tardajos, cidade muito pequena, mas não cheguei a parar... na entrada do lugarejo tem um mapa do Caminho em granito...

Quando alguns peregrinos passavam por mim com suas mochilas enormes... ficava pensando no sacrifício que cada um passa ao transportar seus equipamentos... algumas vezes muito a mais do realmente necessário... mas como diz o ditado: "Cada um carrega a sua cruz!".

A 12,5 Km desde a saída, precisava parar novamente para descansar as danadas das panturrilhas, desta vez foi em Rabé de Las Calzadas. Povoado simpático, com muitas casas de pedra e jardins repletos de rosas.

Parei numa pracinha onde fica o Bar de La Peña, sendo atendido pelo proprietário, Sr José Maria, que muito atenciosa e educadamente nos serviu um chocolate quente e um sanduíche. Após pagar, ele ofereceu uma medalhinha de Nossa Senhora das Graças, mais conhecida como a Virgem da Medalha Milagrosa, a qual guardo até hoje.

Olhem a nota que estava no mural

Ermita de pedra na saída de Rabé

Já são quase 10:30 horas, mas o sol parece que é de meio-dia, muito quente, sensação térmica de aproximadamente 30 graus centígrados, desgastante demais.

Primeira e única vez que vi uma viatura policial na própria trilha do Caminho... esta foi da Guarda Civil Espanhola... mesmo sem ver viaturas, não me senti inseguro em nenhum momento!

Esta etapa foi solitária, pois me arrastava muito e andava bastante devagar, distanciado-me de outros peregrinos. Ao ficar sozinho os pensamentos e reflexões surgem inesperadamente, desperteando as mais variadas emoções. Neste trecho, "do nada", pensei no acidente (quase fatal) que sofri há 10 anos atrás. Do susto, da aflição, do socorro, do hospital, dos médicos, dos amigos, da família... foi como se o filme rodasse novamente... Agradeci imensamente a Deus por estar vivo e fazendo o Caminho de Santiago.  

Forte descida de mais ou menos 2 Km até o meu destino final desta etapa, castigando muito os joelhos. Deu até para esquecer a dor nas panturrilhas... hehehehe

Finalmente Hornillos Del Camino, lugarejo de uma rua só... isso mesmo... a Rua Real. No inverno conta somente com 6 moradores e no verão chega a 50!

Possui apenas uma tienda, um bar/restaurante, uma igreja, uma fonte e um albergue.

 

Coloquei a mochila junto à entrada do albergue para guardar o lugar na fila... só abriria 30 minutos depois... e aproveitei para refrescar o corpo, com uma taça de branco e água na cabeça... rsrsrsrs

O albergue é um assunto a parte. Foi o mais simples que fiquei durante todo o Caminho. Colchão excessivamente macio, beliche sem escada, uma ducha para 20 pessoas (fila na certa), água fraca e quase fria. Preço: 6 euros.

Constatação extremamente boa: senti o verdadeiro espírito peregrino neste lugar! Você vai se acostumando com o essencial e se desapegando de alguns valores materiais.

Da sacada da igreja tem esta bela vista!

Este furgão, muito comum no Caminho, passa pelos lugarejos que possuem estrutura limitada, e param por cerca de 20 minutos. Segredo: é uma tienda ambulante, vende tudo que é tipo de frutas e verduras... fiz a festa!

No interior do único bar, há na parede este interessante conjunto de relógios com o horário mundial!

No final da tarde, pedi ao Moizés(DF) que tratasse uma bolha profunda em meu calcanhar... depois dei uma atenção especial aos pés: água muito fria, um punhado de sal e vinagre (santo remédio)... e não poderia esquecer das panturrilhas, com muita massagem!

Avistei dois peregrinos que vinham se arrastando... era o casal de Brasília(DF), o João e a Sandra. Sugeri que pernoitassem em Hornillos, mas tinham como meta ir até Hontanas, 11 Km depois...

Pense num casal lindo e maravilhoso... ele com uma alegria constante e radiante, contagiando a todos; ela, com uma força de vontade e garra fenomenal, foi realmente uma guerreira ao completar o caminho mesmo com contusão séria nos joelhos.

Já eram 20:30 horas, grande maioria dos peregrinos estava dormindo, apesar do sol presente,  mas, sem sono, saí para a frente do albergue e encontrei na escadaria uma senhora, da Finlândia, que horas antes estava a aprender comigo a pronúncia da palavra albergue em português... insistia em chamar "alberguê"... muito engraçado.

Perguntei porque estava triste, ela respondeu em arrastado espanhol, que as bolhas estavam doendo muito, tomavam quase todo o seu calcanhar. Com a ajuda do Moizés, convencemos a furá-las, deixando uma linha para drená-las... percebemos o alívio e a cara de felicidade dela... ganhei meu dia!