domingo, 24 de fevereiro de 2013

Agés a Burgos (23,8 Km)


Etapa 12 (10/05/12): dia de resiliência!

Noite anterior bem dormida, significado de saída cedo. E que lindo visual do nascer do sol...
Questão de meia hora de caminhada em trecho plano e uma pequena subida, apareceu Atapuerca. Cidade pequena, com os serviços básicos, que tem como principal atração um sítio arqueológico, onde se encontra fossilizado o hombre de Atapuerca (homo antecessor), ou seja, o homem mais antigo da Europa. Em 2000 este sítio foi declarado patrimônio histórico da humanidade pela Unesco. Como passei muito cedo, ainda estava fechado.
Placa indicativa da entrada do sítio

Na entrada do povoado, fiquei alguns minutos observando este gato, peregrinos e mais peregrinos passavam e ele continuava imóvel olhando os passantes... sua calma e mansidão transmitiam paz interior...
Interessante monumento em homenagem ao peregrino (creio eu), contendo as informações turísticas do local.




Mais espectadores nesta etapa... acho até que estavam nos desejando buen camino! hehehe
Um aclive acentuado nos esperava, ladeado por cercas, pois era uma área de treinamento militar. Mas o que incomodava muito eram as pedras... machucaram muito os meus pés ainda na papete! que falta faz a bota!
 


Chegamos num mirador, onde tem uma placa com os dizeres: "Desde que el peregrino dominó en burguete los montes de navarra y vio los campos dilatados de España. No ha gozado de vista más hermosa como esta." Realmente a vista é muito bonita, com Burgos ao fundo, dá impressão que está pertinho... ledo engano, faltavam ainda 23 Km...



Daqui até Burgos foi só descida...

Tirei esta foto justamente para alertar futuros peregrinos. Protejam-se do sol, olhem como estão "tostadas" as panturrilhas deste peregrino alemão (queimadura a vista)! é importante o protetor solar e/ou o uso de calças!


Entrada do lugarejo Cardeñuela Riopico, à procura de uma tienda... mas nada, nada mesmo!



Mais 2 Km adiante vem Orbaneja Riopico, também muito pequena, mas pelo menos tinha um bar aberto, parei e comi um bocadillo com jamón e chocolate quente. Estava com fome e precisando descansar um pouco.
Falta de respeito com a sinalização

Cara de cansado
Após Orbaneja, precisaria tomar uma decisão a fim de chegar em Burgos. Uma minúscula placa mostrava duas opções: Castanhares ou Villafría? optei pela segunda. Acho que esta decisão foi influenciada pelo reforço da placa com a seta amarela. Soube depois que via Castanhares, seria o trecho que tinha bosques e era mais confortável.


Já por Villafría, foi um sofrimento e tanto. Logo no início passa-se ao final da pista do aeroporto de Burgos (isso mesmo, já estamos na região metropolitana de Burgos), e tome-lhe asfalto com o acostamento estreito.

Final da pista do aeroporto


São aproximadamente 8 Km andando pela zona industrial, com tráfego intenso de veículos, atravessando por muitas avenidas. Alguns peregrinos tomam ônibus ou taxi para evitar esta zona. Pelo sofrimento e fadiga muscular aque pensei nisso, mas logo afastei este pensamento. Não era justo fazer isso por apenas 8 Km de 830.

Tive que parar por três vezes para descansar a panturrilha esquerda (era madeira pura), parecia que nenhum alongamento ou pausa dava jeito nela! muita dor! Novamente lembrei-me do amigo peregrino Muller: "Não há caminho sem dor!"
Foi um momento difícil, sentado num largo passeio de uma indústria, durante uma meia hora, pensei que não teria condições de continuar o caminho. Chorei muito! Busquei força na fé, no desafio que me comprometi a enfrentar, e, sobretudo, no apoio que vinha lá de longe, minha família!
Consegui alcançar outros peregrinos (Moizés, Carol, Carlos e a Margarida), o que contribuiu também para agregar mais estímulos.

A zona industrial aos pouquinhos vai sumindo e de uma hora para outra voce já está em Burgos. É a segunda maior cidade do Caminho, com aproximadamente 180 mil habitantes. E como toda cidade grande, a entrada e saída são muito confusas e mal sinalizadas para os peregrinos, pois as placas do Caminho quase não existem, e as poucas existentes se confundem com às de trânsito e indicativas do comércio local. Abaixo algumas indicações cravadas nos passeios que ajudaram bastante:

Burgos é repleta de monumentos, com muitos prédios e suas varandas interessantes. Pena que andei pouquíssimo pela cidade... estava "avariado" rsrsrs. 




Cruza-se quase toda a cidade para se chegar ao albergue. Chamado de Casa de Los Cubos (Calle Fernán Gonzalez, 28), é municipal e simplesmente fantástico. Completíssimo, estrutura moderna, com 4 andares, elevador, 150 lugares, 4 pessoas por compartimento, iluminação nos corredores e banheiro por fotocélula, muito limpo, bem decorado, enfim, mais parecia um hotel 4 estrelas, só que com um preço bastante diferente: apenas 5 euros!
Peguei fila de 15 minutos

Foto de Burgos na recepção do albergue
Na foto o Moizés(DF) tentando conectar seu eletrônico no WI Fi disponível, na área onde ficavam as máquinas de lavar e secar, bem como as de self service de comidas e bebidas.

Demorei um tempão no albergue, descansando, desarrumando e arrumando a mochila, fazendo também uma massagem vigorosa nas panturrilhas com a famosa pomada espanhola radiosalil.


Após descansar bastante, não poderia perder a principal atração turística de Burgos: a Catedral. Da porta do albergue dava para vê-la... maravilhosa, magistral, exuberante, linda... obra prima da arquitetura... eis algumas fotos:




Há também o claustro e museu da catedral, passei muito rápido, estava de volta ao albergue... centrado em descansar, descansar e descansar!
Cidade turística = muito turistas!

Plaza Mayor

O centro de Burgos é cheio de lojinhas de quinquilharias que atraem peregrinos e turistas...

Com fé no nosso Senhor do Bonfim da Bahia deixei meu sinal na porta do albergue...


Fecho este post com um assunto bastante polêmico entre os peregrinos:

Quando passamos por uma cidade grande, bate um sentimento meio controverso, explico:  parece que há uma desconexão com o caminho... o peregrino as vezes desconcentra do espírito do caminho ao entrar em contacto com o dia-a-dia da metrópole... senti isso e a cansaço muscular ajudou a me manter no albergue por mais tempo... deixando de conhecer melhor todos os atrativos que a cidade oferecia, mas me concentrando ainda mais no verdadeiro espírito do caminho!