Foncebadón a Ponferrada (27 Km)

Etapa 22 (20/05/12) - dia de saudade de meus pais!

Acordei muito bem. Nesta madrugada sonhei com os meus pais... estávamos no interior de um  veículo, viajando para algum lugar (não ficou claro), tinha uns 8 ou 9 anos de idade, todos alegres... quase nunca lembro dos meus sonhos (hehehehehe). Acredito que se aqui estivessem, com certeza ficariam satisfeitos e orgulhosos de mim. Saudade eterna!
Este sonho, em especial, significou muito, pois também estava fazendo uma viagem, realizando um dos meus sonhos: peregrinar a Santiago de Compostela! 

Sai do albergue já clareando, muito frio, aliás, foi o início de dia mais frio que enfrentei em todo o meu Caminho, estimo que estava uns 3 graus, pelo menos a sensação térmica era essa. Não demorou 2 Km de íngreme subida e já encontrei a Cruz de Ferro.

Este ponto fica a 1504 metros sobre o nível do mar, sendo um dos locais emblemáticos do Caminho. Trata-se de um monte de pedras que os peregrinos foram deixando ao longo dos séculos ao pé de uma cruz apoiada num mastro de madeira de 4 metros. 

Há um ritual em que os peregrinos depositam uma pedra na base da cruz invocando proteção e energias positivas na sua peregrinação. Podem fazer pedidos e/ou deixar os seus pecados. Claro que deixei a minha pedrinha,  trazida do jardim da minha casa no Brasil, não sem antes ter feito as minhas orações e pedidos. Os pecados? deixa pra lá! rsrsrsrsrs

Um pouco adiante estava no ponto mais alto do caminho: 1520 metros acima do nível do mar!

Passei por Manjarin, local onde só era ruínas e hoje funciona somente um albergue bastante rústico. Peregrinos contam que experimentaram o verdadeiro espírito do Caminho neste lugar, cheio de simbolismo, magia e hospitalidade.

Fui recebido cordialmente pelo hospitaleiro, Tomás, considerado pelos peregrinos como um ermitão e chamado também de último templário. Ofereceu café e chá quentes aos peregrinos que passavam pelo local.

Dai por diante foi só descida... uma ou outra subidinha bem leve.

Terreno com muitas pedras...

A névoa não dava trégua... difícil ver os peregrinos que andavam mais à frente...

Tempo fechando... pensei em colocar o poncho, mas apostei que iria abrir o sol, pois ventava muito.

Acertei... as nuvens começaram a se movimentar rapidamente levando a possível chuva para bem longe. 

Estava acima de algumas nuvens e o que ficou foi o cenário de lindos vales lá embaixo!

Descida significa perigo para os joelhos... muito cuidado nesta hora! Peregrino: use o seu bastão/cajado!

Olhem ai o que apareceu: o pequeno povoado de El Acebo. Muito lindo e incrustado numa pequena encosta. 

Deu vontade de pernoitar aqui, mas tinha andado apenas 11 Km.

E a descida continuava... foi neste momento em que contei 11 brasileiros próximos... momento ímpar do  meu caminho com tantos brasileiros caminhando juntos... não demorou muito e foram dispersando, um a um, cada qual no seu ritmo... 

Mais abaixo fica Riego de Ambrós... outro povoado típico do Caminho, ou seja, com uma única rua.

Na saída do povoado, deparei-me com enormes árvores centenárias. Fiquei pensando: quantos peregrinos não passaram por aqui e foram acolhidos por suas sombras, acalmando-os e proporcionando o devido descanso.

Do alto observei outros peregrinos e imaginei que iria passar ainda ali naquela trilha...

Pequeno trecho de descida muito difícil, pois era só de terreno rochoso.

De longe observei veículos subindo e descendo a montanha. Fato: passaria 30 dias dias sem entrar neles, e o melhor, longe do trânsito infernal das grandes metrópoles! rsrsrs

Outra cidade, desta vez era Molinaseca. Bela e encantadora, bem cuidada e arejada, apesar de estar localizada numa grande depressão.

Para adentrar à cidade passa-se por uma ponte romana sobre o Rio Meruelo...

... com águas bem límpidas e rasas.

Sentido obrigatório via Calle Real... estranhei que estava vazia para o porte da cidade. Só depois que me lembrei: era domingo! 

Ao sair, sendo vigiado e protegido por Santiago Peregrino. Parei um instante, fixei o olhar nele e senti que ele estava dizendo para mim: "Buen Camino"! Segui feliz e confiante. 

Após uma bom trecho margeando o asfalto, me aproximo do destino de pernoite desta etapa.

Finalmente era Ponferrada... estava exausto, doía quase tudo: tendão, panturrilha e joelhos, resultado das descidas... mas apesar disto, estava muito feliz... a etapa foi linda, parecida com a dos Pirineus, principalmente quando ainda lá no alto.

Fiquei no Albergue de Peregrinos San Nicolás de Flüe, o único da cidade. Com capacidade para 174 pessoas, este albergue é mantido pela Parroquia de Nuestra Señora de La Encina, não cobra diária, deixei 5 euros de donativo.

Fila para entrar no albergue, pois só abriu às 15 horas.

Ainda na fila fui abordado pelo gentil hospitaleiro Vitor, o qual, vendo meu estado físico, se ofereceu para fazer uma massagem nas panturrilhas... foi a salvação, fiquei muito grato!

As instalações estão bem conservadas e conta com todos os serviços, menos wi fi. A foto abaixo, ainda na área interna do albergue, mostra a entrada da capela, onde, à noite, assisti a uma missa linda e emocionante; o padre pediu que os peregrinos rezassem o Pai Nosso na sua língua natal, cada país por vez.

Bem em frente ao albergue, peguei o menu do peregrino, no Restaurante El Triskel. No primeiro prato carboidrato e no segundo prato proteína. Embora o menu do peregrino seja simples e bem em conta, vez em quando abusava numa batata frita! A sobremesa e o vinho estavam inclusos no preço: 11 euros.

Sai para conhecer um pouco a cidade e fazer a digestão. Ponferrada tem uma população de cerca de 70.000 habitantes. Excelente estrutura para peregrinos e turistas. Não lha falta nada!

O Castelo de Ponferrada, também chamado de Castelo dos Templários, é realmente muito lindo e imponente. Atualmente tem uma superfície de mais de 8.000 metros quadrados, é o resultado de uma extensa série de ampliações e reformas, desde a sua primeira construção no século XII.

Pena que estava fechado para visitação... fiquei só pelo lado de fora a contemplá-lo, foi até bom, pois voltei para o albergue para descansar a musculatura.

Também passei pela Torre Del Reloj, muito bonita!

Numa das praças da cidade, observei este grupo de pessoas da "melhor idade" numa boa e animada conversa; parei próximo a eles e cumprimentei-os... por um momento imaginei como seria morar em Ponferrada, bateu vontade...