quarta-feira, 1 de maio de 2013

Astorga a Foncebadón (26,3 Km)

Etapa 21 (19/05/12)  - dia de retorno às botas e de muita paz de espírito!

Neste dia tive uma excelente constatação no meu caminho: o retorno das botas! pois é, após 14 dias andando de papete, e com as bolhas da queimadura totalmente secas, voltei a caminhar com as botas... No início uma estranheza, mas depois de 5 minutos já estava habituado e parecia até um corredor de 100 metros, tive que me conter por várias vezes para não andar depressa demais! que coisa maravilhosa!



Logo passei por Murias de Rechivaldo. Localidade contando com pouco mais de 100 habitantes, mas de estrutura mediana, com 3 albergues, hostais e restaurantes. Chamou-me atenção um razoável número de casas construídas de pedras e com grandes portas.



Cheguei em Santa Catalina de Somoza, bastante parecida com o povoado anterior...
No início da cidade, parei num albergue que possui um bar/restaurante, a fim de fazer um lanche rápido, o recinto estava lotado de peregrinos, pois era cedo e só este estava aberto...
Foi então que aconteceu um encontro memorável, vejam só: a espanhola que no dia anterior em Astorga reclamara bastante do ronco do Alexandre(BH), apareceu no bar e quando o viu foi logo exclamando em alto e bom som: "és o brasileño roncador". Todos presentes começaram a prestar atenção à conversa... ela continuou perguntando onde iríamos pernoitar e respondemos que provavelmente em Foncebadón. Não se conteve e disse: "no me quedaré en Foncebadón nunca, el ronquido do brasileño parece un avión". Todos riram, foi muito engraçada esta passagem. 

Apesar do dia estar claro e com um tímido sol... o frio era de ranger os dentes, acredito que estava uns 10 graus, foi necessário usar a balaclava, o que amenizou bastante. 

De passagem pela localidade de El Ganso. Aqui a atração é um bar estilo velho oeste, chamado de Cowboy,  onde param muitos peregrinos. As suas paredes são um museu vivo do Caminho, com  lembranças e objetos típicos da região e do Caminho.

Bom trecho de sombra proporcionada por pinhais e carvalhais.


Marco do Caminho de Santiago sinalizando a entrada do povoado de Rabanal Del Camino.
No passado este povoado tinha várias igrejas e hospitais, funcionava como um importante ponto de parada para os peregrinos que iriam subir o Monte Irago. Atualmente ainda mantém 4 albergues em funcionamento.

Estava em companhia de um grupo de brasileiros... parada básica para repor energias... lanche comunitário com muito ovo, pão e suco!
Foi aqui que decidi seguir adiante, já tinha percorrido nesta etapa exatos 20 Km... 
Daí em diante foi só subida... quase 6 Km de ladeira!
O relevo mudou muito. Há dois dias atrás estava andando por muitas planícies e agora o terreno era predominante montanhoso.
Enfim Foncebadón, local do meu pernoite.
É uma localidade que no passado foi abandonada, ressurgindo após a peregrinação a Santiago...
No Sec XII, um eremita de nome Gaucelmo, construiu um hospital e um albergue para os peregrinos.

Diz uma lenda que o povoado após um próspero tempo, recebeu a visita de um cigano, o qual pediu abrigo. A população local não só o expulsou como terminou em linchamento e sua morte na fogueira. Porém, antes de morrer o cigano rogou uma maldição, a vila morreria com seus habitantes e nada mais prosperaria naquelas terras e que o próprio demônio tomaria conta em forma de cães ferozes.

Atualmente possui 3 albergues. Me instalei no Albergue Convento Foncebadón, privado, ao custo de 9 euros, bem pequeno, com capacidade para 20 peregrinos, oferecendo os serviços básicos. Na foto abaixo tremendo de frio... o pior eram as fortes rajadas de vento.
Fui almoçar no restaurante La Taberna de Gaia  (http://www.latabernadegaia.com/), que fica ao lado do albergue. Possui decoração, música e cardápio medievais.
Estávamos numa mesa com 10 brasileiros..
Fomos muito bem atendidos pelo dono do restaurante, o qual parecia o Obelix, com vestimentas da Idade Média, explicando o menu.
Vou logo avisando que não foi barato hein? o custo total por pessoa foi de 26 euros, incluindo sobremesa, água e vinho. Me permiti mais esta extravagância.

O prato principal foi um churrasco de "ternera", com batatas e um pão parecendo uma hóstia gigante (que forrava o prato). Muito gostoso!
A ordem era atacar!!!!!




Após este lauto almoço, fiquei numa das varandas do albergue. Têm-se uma visão maravilhosa, acalma e dá uma paz de espírito fenomenal... foi o final da tarde escrevendo o meu diário, contemplando este cenário magnífico e a refletir sobre a minha vida e a experiência de estar no caminho.


O tempo estava bom... mas de uma hora para outra vejam o que aconteceu: fechou tudo e foi muita chuva!

Finalizando sobre Foncebadón: Pernoitei, não vi cães, lobos ou outras visões, pelo contrário, vivi o verdadeiro espírito do Caminho...

7 comentários:

  1. Obrigado. Grande Comandante por mais essa postagem
    já adicionei o Mauro
    Baqueiro

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    1. Boa viagem Baqueiro, amanhã, com certeza, começará uma grande e maravilhosa experiência!

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  2. interessante, pois muitos peregrinos temem os cachorros neste local

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