Etapa 18 (16/05/12) - Dia de contemplação em Léon
Mais um dia amanhecendo no Caminho... parece até que são fotos iguais todos os dias, mas as cores do amanhecer são muito lindas e únicas!
A jornada seria dura neste dia, pois tinha planejado andar cerca de 37 Km... se a condição física permitisse é claro!
Na estrada fiquei
olhando o trem veloz que passava... retrocedi mentalmente ao primeiro dia em que
cheguei à Europa, precisamente do trajeto Madrid/Pamplona. Passaram-se 21 dias
longe de casa e a saudade era forte, mas a vontade de concluir o Caminho e de chegar a Santiago era o que me dava forças para superar as adversidades.
Nesta etapa ainda peguei um pequeno trecho de andadero... finalmente acabando!
Quase 13 Km após a minha saída, passei por Reliegos, povoado pequeno de quase 200 habitantes no máximo. De estrutura simples, contando com um bom albergue, uma mercadinho e um bar. Fato pitoresco ocorrido no ano de 1947 nesta cidade: a queda de um meteorito de 9 Kg, sendo o último catalogado na Espanha.
Ainda em Reliegos observei esta interessante construção encravada embaixo de um pequeno morro: no passado servia como adega privada para consumo de determinada família. Atualmente funcionam como pequenas residências e existem várias deste tipo na região.
No final da rua principal tinha uma tienda... estava ávido para beber um suco ou chocolate quente...
Mas quem disse que ela estava aberta? eram 8 horas e não tinha nada aberto, nem mesmo as residências, parecia uma cidade fantasma!
O jeito foi parar já quase na saída, num banco em área descampada... confortei-me com um sanduíche preparado na noite anterior... estava bem sequinho, um suco cairia bem, mas fazer o que né?
Fazia um pouco de frio e o tempo ameaçava... Tiro o poncho da mochila ou não tiro? Eis a questão. Conselho aos peregrinos: se observarem alguma ameaça de chuva, não hesitem em colocar o poncho ou capa de chuva preventivamente, pois nem sempre a chuva manda aviso!
Entrando em Mansilla de Las Mulas... com 1900 habitantes é uma cidade com ótima estrutura para os peregrinos, dispõe de dois albergues, hostais, mercados e um bom comércio, além de igrejas, bibliotecas e o Museu Etnográfico de León.
Para compensar o povoado anterior em que tudo estava fechado, parei no Albergue El Jardín del Camino, que tem uma boa estrutura e ótima lanchonete.
A foto abaixo é do monumento em homenagem aos peregrinos. Feito de pedra, com 3 estátuas humanas (peregrinos) sentadas sobre uma base de cujo centro parte uma cruz esculpida com imagens da Virgem e de Cristo.
A cidade ainda guarda os restos das muralhas construídas na época medieval.
Após alguns bosques, passei por pequenos povoados...
Villamoros de Mansilla...
Puente de Vilarente... inclusive aqui vai meu protesto, nesta ponte, com muitos arcos, o espaço para pedestre/peregrino é mínimo, os caminhões passam "tirando fino" nas pessoas!
Após ameaça de chuva, o sol deu o ar da graça, calor insuportável, sombra pelo caminho nem pensar... já tinha tirado o anorak... suando em bicas!
A essa altura já estava com pouquíssima água e querendo descansar um pouco, a tendinite incomodava... na entrada do próximo povoado, eis que surgiu uma fonte com sombra maravilhosa... que pena, a água não possuía garantia sanitária. Senhores peregrinos: atentem para as sinalizações junto às fontes d'água!
Este povoado era Arcahueja, bem pequeno, estava tudo fechado...
... com exceção do seu único albergue, o La Torre.
Foi uma parada e tanta, aproveitei até a pequena sombra projetada pelo albergue... e claro que enchi meu cantil com mais água....
Faltavam ainda 8 Km para Leon, minha parada para o pernoite. Este trecho não foi fácil, fui me poupando ao máximo e bem devagar, administrando minha situação física...
Próximo a León passamos por uma monótona zona industrial, sempre margeando a carretera (N-601)...
Cena comum no Caminho: mais outro par de botas deixado por algum peregrino.
Para transpor a carretera, peguei uma passarela metálica.
A partir deste bairro o peregrino deve tomar muito cuidado com a escassez de sinalização vertical. Como toda cidade grande, a entrada de León não foge a esta "regra"... ainda bem que pequenos triângulos amarelos e/ou conchas metálicas nos passeios levam o peregrino ao centro.
Finalmente cheguei em León, capital da província do mesmo nome, com cerca de 142 mil habitantes, superdesenvolvida e com edifícios modernos.
O conjunto de fontes marca a entrada da cidade - pena que não estava jorrando água quando passei.
Muralhas erguidas pelos romanos no Sec II misturam-se às construções modernas. Interessante esta combinação harmoniosa registrando a história.
Fiquei no Albergue do Monastério Beneditino das Imãs Carbajalas, situado na Plaza Santa María del Camino. Em bom estado de conservação, tem capacidade para 132 peregrinos, ao preço de 5 euros.
Muito bem recebido pelo hospitaleiro, o qual explicou calmamente as
regras do albergue, alertando que as portas fechavam às 22 horas, como
era de costume na maioria dos albergues do Caminho. Na oportunidade informou que à noite ocorreria a benção aos peregrinos.
Acompanhou-me até o
beliche em que fiquei, sendo este o único albergue que o alojamento dos homens era separado do das mulheres.
León é uma cidade completíssima de serviços, e que merece pelo menos um dia inteiro para visitar seus monumentos e igrejas. Destaco Plaza Mayor, Casa de Botines (mais uma obra de Gaudi), Basílica de San Isidoro, Igreja de Santa Maria, Palácio de Guzmanes, Museu de León.
Com
tanta atração cultural e no estado físico que estava, tendinite ainda
incomodava, ficava difícil passar por todos. Elegi a principal atração:
a Catedral de León.
Construída no Século XIII, em estilo gótico francês, é simplesmente exuberante. Possui vitrais extraordinários, distribuídos em quase 1700 m² de superfície. Infelizmente a máquina fotográfica não tinha resolução suficiente para captar com fidelidade tamanha beleza.
Ainda visitei o seu claustro e museu. Ao sair, observei que a praça estava repleta de moradores, turistas e peregrinos, sentei por alguns instantes num dos bancos e fiquei a contemplar esta mistura de culturas...
Lá estava a turma de peregrinos brasileiros ensaiando conhecer melhor a cidade... optei em retornar ao albergue para descansar e relaxar um pouco.
Já no saguão do albergue troquei umas ideias com o José, peregrino das Ilhas Canárias e de quase 70 anos de idade, já no seu 5º Caminho... ele estava com os pés imersos num balde d'água contando o segredo do sucesso para saúde dos pés: água fria, vinagre e um punhado de sal. Dei risada e ele perguntou qual era o motivo. Respondi-lhe que era justamente o que fazia quase diariamente.
Pontualmente às 19:30h as freiras beneditinas de Cabajal levaram um bom número de peregrinos para uma capela ao lado do albergue. Assisti às famosas vísperas beneditinas com cantos gregorianos, seguidas da benção aos peregrinos. Foram 16 freiras e um padre. Momento de muita paz!
Pequena historinha, aliás, mais uma do amigo peregrino Alexandre(BH): estava quase terminando a benção, eram 21:35h, e ele começou a suar frio e ficar pálido... perguntei-lhe o que estava havendo e respondeu-me que precisava tomar um suco de laranja ou algo com açúcar... pois bem, passamos num bar em frente ao albergue...
No bar, pedimos o tal suco de laranja, que demorou para sair... quando estávamos fechando a conta o garçom perguntou: - vocês são peregrinos? o albergue já fechou há 10 minutos, pois são 22:10h. Pense numa correria.... hehehehe
Batemos na porta do albergue e nada... tornamos a bater com mais força... e depois de uns 10 minutos apareceram duas freiras que nos deram uma bronca e tanta, deixando-nos entrar...
Conselho aos peregrinos: fiquem atentos aos horários dos albergues!
Batemos na porta do albergue e nada... tornamos a bater com mais força... e depois de uns 10 minutos apareceram duas freiras que nos deram uma bronca e tanta, deixando-nos entrar...
Conselho aos peregrinos: fiquem atentos aos horários dos albergues!
Kerjean, eu tbm fiz este mesmo percurso em 2004...... mas.... depois, pensando bem, me arrependi de ter caminhado tanto !!
ResponderExcluirAchei que não tinha necessidade de fazer um trecho tão longo, mesmo pq chegar a Leon é bem estressante. Caminha-se por rodovia e atravessar a cidade é bastante cansativo.
Lindas suas fotos..... lembranças maravilhosas.
Parabéns pelo blog.
Oi Jurema,
ExcluirIsso mesmo, deveria ter dividido, quando cheguei León já estava exausto e a musculatura precisando de descanso.
Forte abraço.
Lugares apaixonantes !!!
ResponderExcluirLindos demais
Ah... não me identifiquei na mensagem acima..... sou Jurema, peregrina da lista.
ResponderExcluirabs
Fiz essa etapa de Mansilla a Leon e achei tbm bem cansativo, porém a estada no convento das Irmãs e seus cantos foram recompensadores. Quanto aos horários são requisitos a serem cumpridos rigorosamente. Na minha passagem tivemos de presente uma ária cantada por uma cantora lírica que também estava fazendo o caminho.
ResponderExcluirhttp://www.todo-caminho.blogspot.com.br/2011/04/etapa-mansilla-de-las-mulas-leon.html
Beleza de blog Emanoel... está na minha lista de favoritos em meu blog.
ExcluirGrande Comandante estou aprendendo muito com esses relatos e com certeza estarei dividindo este percurso de 37 km em dois ficando em Mansilla de Las Mulas, conforme o senhor me indicou.
ResponderExcluirValeu Comandante pelas orientações.
Baqueiro
Com certeza fará um belo caminho baqueiro!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito legal! Parabéns pelos post. Uma imersão na Espanha antiga e medieval...a partir da história tb vai se "fazendo" o caminho!
ResponderExcluirabçs,Sandra
Bom ter voce ao meu lado fazendo este Caminho através do blog, literalmente a quatro mãos... grato por tudo. Bjao!
ExcluirComecei o Camino a partir de Leon e chegamos até Vilandangos. A estrada era muito movimentada e cansativa. Chovia muito e minhas botas da Timberland ficaram encharcadas. Uma decepção e muita preocupação com sensação tão desconfortável de ter os pés molhados. Pernoitamos em Vilandangos de Parma junto a peregrinos da França, Alemanha e Holanda. Cozinhamos e tomamos vinho. Fazia muito frio no início de abril de 2008. Meu amigo italiano fez fogo prá secar as roupas e botas e nos aquecer... Seguimos até Astorga no dia seguinte, mas dizem que ficar em Ospital de Órbigos é muito interessante.
ResponderExcluirKerjean, sinceramente quando estiver no Caminho vou mais devagar, meus pezinhos não vão gostar de caminhar tanto assim num único dia.Minha intenção é chegar em Santiago em 35/40 dias.Mais uma vez agradeço seus relatos é muito orientador e Parabéns mesmo!!!
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