segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Santo Domingo de la Calzada a Belorado (22 Km)


Etapa 10 (08/05/12): Brasil em Belorado

Fazia parte da minha rotina arrumar a mochila na noite anterior para, ao acordar, não incomodar os companheiros de caminho. Pegava minhas coisas e saia do quarto para um outro cômodo, normalmente a copa/cozinha ou recepção dos albergues; e não foi diferente neste dia, por volta das 05:30 horas, muitos dormindo e ainda escuro, rumei para a copa, fiz a higiene pessoal, comi duas bananas com um suco em caixa.
Quando estava terminando o aquecimento para sair, já às 06 horas, dei por falta do meu inseparável pente de osso (minha relíquia!), retornei ao quarto e deparei-me com ele sob a cama, quebrado ao meio, acho que dormi com ele no bolso e aconteceu este desastre rsrsrsrsrs; na saída do quarto fui interpelado por uma americana, a qual falando alto e mal humorada, reclamou comigo dizendo que esse era o seu quinto caminho, que o horário para acordar era 6 horas, e que eu fiz muito barulho ao acordar cedo (pelo menos foi o que entendi hehehehe). O que fiz? monossilabicamente, com o meu "inglês avançado", respondi-lhe que não fui eu quem teria feito barulho, pedi desculpa e sai aborrecido... orei bastante por ela na saída do albergue. No caminho nos deparamos com todo o tipo de pessoa, e estava preparado para isto, essa era uma das minhas expectativas... mas, 3 minutos depois vejam abaixo o que me esperava:
Ao passar sob a Ponte de Santo Domingo, o reflexo da lua batia nas águas do Rio Oja, formando um cenário muito lindo. Pergunto: posso me aborrecer logo de manhã cedo com as pessoas? imediatamente esqueci o incidente.
Lua saindo da chaminé... não foi photoshop hein!
Fazia um calor tremendo, dava a impressão que o dia seria com muito sol...
Ledo engano, o tempo fechou rapidamente e começou a chover, parei... coloquei o poncho e calcei a bota... chuva e papete não combinam!
Encontrei o Edilson, autêntico capixaba do Espírito Santo, amigo do caminho que trasmitia uma paz imensa. Estava parado e queixava-se de uma tendinite. Aproveitou a chuva para trocar a sandália pela bota. Perguntei-lhe se dava para prosseguir numa boa e ele respondeu com um sinal de positivo.
A chuva continuou castigando e mais na frente tive que parar... não pela chuva, mas pela dor que a bota estava ocasionando ao roçar nas bolhas da queimadura, mesmo protegidas com ataduras... sorte foi ter encontrado a proteção de um viaduto, pois com calma, retirei a bota e dei uma reforçada na proteção adicionando mais atadura... mas não teve jeito: papete de novo!!!
Chegando em Grañon

Em Grañon, última vila da Província de La Rioja, deparei-me com uma peregrina chinesa andando muito lentamente, perguntei-lhe em espanhol se estava tudo bem, mas não respondeu... desejei-lhe então: Buen Camino!
 
Mirante na saída de Grañon


Após uma extensa subida e chegando a um platô, há um enorme painel marcando a divisa entre as províncias de Rioja e Burgos.

Ainda com chuva, passei por Redecilla del Camino, vilarejo com pouco mais de 130 habitantes. Reparem que na Província de Burgos todos os lugarejos possuem na entrada uma placa indicativa com mapa.
Esta foto foi no posto de informações turísticas na entrada do povoado. Com a instabilidade do tempo, a lente da máquina fotográfica embaçava a todo momento. Encontrei estas duas paulistas, a Lummy e a Rosana, que me ajudaram a limpar,  cedendo algodão.
Abaixo fachada da Igreja de Nossa Senhora de La Calle que estava fechada. Uma pena, pois lá se encontra uma das mais belas pia batismal da Espanha.


Na saída do lugarejo, encontrei o casal de curitibanos, o Ricardo e a Jô, determinados e sempre dispostos a ajudar o próximo, com suas opiniões e orientações sempre constantes.

Mais adiante passei por Viloria de Rioja, pequena cidade, conhecida por abrigar um albergue administrado pelo brasileiro Acácio e sua esposa Orietta, esta italiana.


Achei curioso um parque infantil instalado bem em frente ao cemitério local.
Quase toda a etapa andei em companhia do Alexandre-BH, invariavelmente filosofando sobre assuntos os mais diversos possíveis... alguns importantíssimos. Neste click dei até uma distância razoável, pois o ar ficou um pouco rarefeito rsrsrsrsrsrs.

Passei por Villamayor Del Rio, local onde registrei um morador local segurando tradicionalmente o pão sem maiores cerimônias...

Para chegar em Belorado, destino final desta etapa, margeamos a rodovia por um longo trecho de subida. A etapa foi muito fácil e rápida, apesar da chuva e dos pequenos aclives.

Albergue na entrada da cidade
Belorado possui aproximadamente 2.200 habitantes, com todos os serviços básicos, muito limpa e bem cuidada.
 



Plaza Mayor
Instalei-me no Albergue Cuatro Cantones (tel 696427707) que só abriu 50 minutos depois da minha chegada. Na fila, fiquei observando funcionários municipais reparando meticulosamente o piso da via pública.
O Albergue tem uma estrutura razoável, com capacidade para 62 pessoas, possuindo todos os equipamentos essenciais e piscina (não usei), ao custo de 10 euros. Fomos recebidos pelo Fernando, hospitaleiro da Paraíba.
Desarrumando e arrumando a mochila

Bolacha que parecia uma hóstia gigante
Após o banho e almoço, muitos peregrinos foram se encontrando casualmente na Plaza Mayor. Quando vimos, estava formado um grupo de 12 brasileiros tomando sol e papeando... momento mágico de congraçamento! Maravilha!
Da esquerda para a direita:
em pé - João(DF), Priscila(RJ), Eu(BA), Carol(DF), Sandra(DF) e Moizés(DF).
sentados - Raoni(MT), Alexandre(BH), Dênia(MT), Edilson(ES) e Gustavo(MT).

Jantando no albergue com o sol das 8 da noite




15 comentários:

  1. Lugares encantadores!!!
    Estava com saudade das postagens ,

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    1. Cadê o tempo? mas tô me virando para achá-lo! rsrsrsrs

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  2. Verdade, é um grande prazer rever o Caminho, e esses lugares encantadores, como bem diz Yumara. Belorado, é uma cidade que não a conheci nos seus detalhes, talvez por ser uma cidade, digamos de passagem do caminho literalmente, e que o seu albergue, principalmente o Cuatro Cantones, acaba acolhendo o peregrino na sua grande mesa ou no seu quintal e a cidade fica "esquecida".

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    1. Isso mesmo Emanoel... muitas vezes não saímos pelas cidades para conhecer um pouco sobre sua história e seus habitantes!

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  3. Querido Kerjean!!!! Saudades!!!! Este lugar me marcou muito , uma das missas mais emocionantes do caminho além da estrela recebida no final. Um grande abraço e um 2013 de muita luz!!!!

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    1. Olá Dênia, salvo engano este lugar que recebemos uma estrela no final da missa foi em Carrion de Los Condes... comentarei mais adiante.

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    2. Prezado Kerjean,

      Eu estava no Caminho na mesma época que vc...não nos cruzamos... mas estive com a Dênia, o Raoni e o Gustavo...Inclusive dividimos a mesma Van para Chegarmos a SJPDP...não os vi mais..somente no primeiro dia...vcs saberia me dar notícias deles...concluiram o caminho??
      Agradeço as notícias.
      Marcelo/ Brasília-DF

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    3. Olá Marcelo,

      Todos terminaram bem o Caminho...

      tenho os contatos (emails) deles, se tiver interesse entre em contacto através do meu email:

      kerjean86@gmail.com

      forte abraço!

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  4. Esqueci de assinar o comentário acima. Denia Cuiabá/MT

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  5. Grande Especialista, muito bom; ainda mais quando vc desperta em outras pessoas à vontade de sempre seguir em frente e nunca desistir! Espero que o velho Baca/87, esteja aprendendo estes "bergaminhos" de instruções"! Coruja/87.

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    1. Com certeza prezado Cabral, uma das finalidades primordiais deste blog é justamente a de divulgar o Caminho de Santiago. Abraços

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  6. Lembro bem desse percurso, Kerjean, que fiz dia 04 de maio de 2000. Lembro bem porque era o dia do aniversário do meu pai (falecido ano passado). O dia foi todo de chuva também. Chegando ao albergue (antigo, ao lado da igreja) não havia mais vaga. Resolvi ficar assim mesmo e acabei conquistando uma vaga. Abraço.

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    1. Imagino Ronaldo que este seu dia deve ter sido de bastante instrospecção e muito proveitoso. Forte abraço!

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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