terça-feira, 4 de setembro de 2012

Zubiri a Pamplona (20 Km)

Feriado do dia 1º de maio em Pamplona !

Acordei cedinho (05:20 Hs), após tomar o café da manhã, e depois de um demorado alongamento, peguei a estrada com muita neblina e frio, mas nada que fizesse ranger os dentes.


Contraste: orvalho X poluição

A saída de Zubiri é marcada por uma zona industrial, muita fumaça misturando-se com a leve garoa que caia, contrastando com a bonita vegetação verde no restante da etapa e nas proximidades.
Fontes d'água são comuns em todo caminho, na sua grande maioria possui água apropriada para o consumo, sendo sinalizadas quando não forem de água potável.
Fonte em Ilarratz (pequena poblacion)


Nesta etapa andei muito por terra batida, um pouco de asfalto e vez ou outra aparecia alguma escada. Sempre tomava cuidado com os joelhos, principalmente nestas descidas.



As paradas são fundamentais para o descanso, alongamento e para recompor as energias com um lanche, por isso aproveitava qualquer local como forma de apoio. Estas fotos abaixo foram em Zuriain, lugarejo bem pequenininho, contando com umas 4 ou 5 casas.



Achei bastante interessante que em diversos locais, ao longo de todo caminho, vez por outra aparecia "do nada" algumas máquinas autoservice (destas que conhecemos aqui nos centros urbanos). Interessante perceber o contraste muitas vezes rústico e simples do local com a presença das "modernas máquinas". Também não vi nenhum sinal de depredação nestes equipamentos, mesmo quando colocados em locais distantes de cidades ou até mesmo de casas isoladas.


Local muito bonito foi o Alto de Irotz! mas o que me chamou a atenção foi a idéia que um morador teve em adaptar a garagem de sua casa, à beira rio, transformando-a em um bar/restaurante muito aconchegante, com cadeiras, mesas e sombreiros, no qual servia refeições rápidas como pizzas, requeijão derretido na chapa, sanduíches e tantos outros, além de sucos e bebidas em geral. Claro que apesar de ter lanchado há pouco tempo em Zuriain, não perdi a oportunidade e sorvi uma copa de vino tinto, pois apesar do sol aberto,  fazia frio de dez graus.

 
 
Moizés e Carol de Brasília-DF mandando ver!!!!
Uns 3 Km adiante, passei por Zabaldika, localidade com quase nenhuma casa, mas com uma grande área de descanso, com várias mesas, cadeiras e churrasqueiras de concreto para as pessoas fazerem pequiniques. Já após esta área parei para contemplar alguns pescadores de truta. Lembrei de um filme e me transportei por alguns minutos para um outro mundo....coisa simples uma pescaria, mas de truta nunca havia presenciado. Fiquei olhando a cena, mas nem eu e nem o pescador, naquele momento, teve a sorte de ver a truta sendo pescada.




Inúmeras passagens por baixo das rodovias
Boa parte deste etapa é feita à margem do rio Arga, o qual possui uma correnteza considerável. Muito bom andar ouvindo o barulho da água. Parei algumas vezes para admirá-lo e aproveitei para passar água no rosto.
Rio Arga

Cachoeira após Zalbadika

Localidade chamada de Trinidad de Arre

Trinidad de Arre

Passei por outra cidade bem próxima à Pamplona, a 2,7 Km, chamada de Burlada, achei interessante a fachada desta casa, onde seu proprietário a ornamentou com várias conchas, um dos símbolos do peregrino.
Casa em Burlada ou Burlata em basco

Na entrada de Pamplona nos deparamos logo com a Ponte Medieval La Magdalena. Construída no século XV, em estilo romano. Localizada no bairro de mesmo nome, é a entrada principal da cidade para os peregrinos do Caminho de Santiago. É a ponte mais popular de Pamplona. Em 1939 foi declarada monumento histórico.

Após atravessar a ponte, entrando na cidade pelo norte, passei pelo Portal de França, onde me deparei com uma edificação de pedra - trata-se de uma das várias muralhas da cidade. Pamplona divide-se em duas partes: a moderna, com numerosos jardins e grandes avenidas; e a zona histórica, rodeada de muralhas, com ruas estreitas e edifícios antigos.

Cheguei ao Albergue Jesus y Maria por volta das 13:55 horas. Trata-se de uma hospedaria municipal, ao preço de 7 euros, muito bem conservada, limpíssima e com uma ótima infraestrutura. Fica numa edificação que era uma antiga igreja e seminário jesuíta, com dois andares e 60 beliches.
Fachada do Albergue (Calle Compañia, 4, +34 662570716)






Neste albergue conheci uma senhora chamada Josefina. Sem maiores apresentações nosso encontro foi mais ou menos assim: estava cuidando dos pés, ou melhor, estava tentando furar a minha primeira bolha do caminho, quando o Oscar, peregrino de Barcelona que conheci nesta etapa, ia passando e falou-me: - "Ohh Kérjean você está se batendo com esta bolhinha, deixa eu te apresentar a Josefina".
Ela só falava em inglês ou holandês... me ferrei rsrsrsrsrs, mas com a ajuda do Oscar e da Serena (Italiana que dividia o beliche comigo), e depois de algumas traduções e mímicas, descobri que se tratava de uma enfermeira que também estava fazendo o caminho, e que tinha uma missão pessoal de ajudar os peregrinos, tratando de suas enfermidades.
Carregava consigo um carrinho (tipo de bebê) com todo o que é tipo de medicamento. Me emocionei muito com esta atitude... isso é realmente o verdadeiro espírito do caminho: o de servir ao próximo e sobretudo sem nenhum interesse... é a solidariedade!!!


O carrinho com os medicamentos
Meu canto que se transformava invariavelmente num pardieiro

Após colocar roupas sujas na máquina automática (sim aqui tem isso também!!! errou quem pensou que vida de peregrino é só lavar roupa na mão!), sai para almoçar e conhecer Pamplona, que em basco chama-se Iruña. É a capital da província Navarra, relativamente grande e antiga, possui cerca de 200 mil habitantes e foi fundada no ano 74 AC. É uma cidade com muita vida, em pleno feriado do dia do trabalho (1º de maio), estava repleta de pessoas por tudo que é lado. Pessoas nas ruas e praças se confraternizando, protestando e comemorando o feriado.

Restaurantes lotados na Praça do Castelo (coração da cidade)
Fazendo a digestão do almoço comecei a procurar as principais atrações da cidade. A primeira foi a Catedral de Santa Maria de Pamplona, localizada na zona mais alta e mais antiga da cidade, bem perto do albergue. Possui estilo românico, sendo consolidada no século XIV. É considerado o monumento gótico mais importante da Navarra. Para visitação paga-se 5 euros, com direito à visita ao claustro e museu.


No interior da Catedral: momento de oração



A Plaza de Toros foi projetada em 1920 para comemorar touradas, com a capacidade de aproximadamente 19.720 espectadores. Atualmente é utilizada para concertos e shows, bem como,  para o funcionamento da Feira de San Fermín, que acontece anualmente entre 7 e 14 de Julho.

Próximo à Plaza de Toros me dirigi ao Forte de San Bartolomé. Construído no século XVIII, está muito bem preservado. Para entender a importância desta construção, deve-se dizer que este espaço era uma defesa para a frente da cidade, no rio, localizado no alto. Atualmente é deste forte de onde saem as visitas guiadas à parte murada da cidade.
Finalizando este post, posso afirmar que esta etapa de Zubiri a Pamplona tem um grau de dificuldade baixo, sendo muito plana e com raras subidas. Caracterizada pela vegetação bem verde e sem monotonia, ou seja, possui diversidade de paisagens com alternância de vários povoados, o que torna a caminhada menos cansativa e mais prazerosa.
Parei algumas vezes religiosamente, aproveitando para poupar toda a musculatura, principalmente a da panturrilha, que na etapa anterior demonstrou sinal de fadiga. 
  

6 comentários:

  1. Bom dia Kerjean, você nem imagina a expectativa de ler a sua próxima experiência.... Pois através delas estou revivendo o caminho... E com muita emoção que leio suas experiências, pois você sabe como ninguém descrever a grandeza deste caminho. Abraços Denia Cuiaba

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    1. Olá Dênia,
      Fico feliz por ter gostado do relato.
      Pois é amiga, também revivo o caminho cada vez que posto algo novo no blog, realmente é uma sensação muito boa.
      Forte abraço,

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  2. Nossa, uma peregrina-enfermeira-anja !!!
    São estas atitudes que fazem a magia do caminho acontecer !!!
    Lindas fotos, belo relato.

    Abs
    Jurema

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    1. Isso mesmo Jurema, o caminho realmente é mágico e sinto saudade dele todos os dias!
      Forte abraço!

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  3. Parabéns Kerjean, ainda não fiz o caminho mas estou me preparando. Seus relatos são excelentes e as fotos também.

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