domingo, 4 de novembro de 2012

Torres Del Rio a Logroño (21 Km)


Etapa 7 (05/05/12): Dia da queimadura e de pessoas especiais no meu Caminho!

Acordei sem sentir dor alguma, mas com a certeza que o dia seria muito difícil, pois apesar de ter colocado gelo no tendão, feito massagem e tomado antinflamatório, ficou aquele receio da dor voltar... acostumei a acordar cedo, por volta das 5 da matina, saindo invariavelmente entre 6 e 6:15 Hs.
Momento hilário aconteceu na saída de Torres Del Rio, como faço sempre nas saídas e no começo de cada etapa, abro a caminhada com algumas orações, sempre pedindo ao Senhor que me dê forças para chegar em Santiago, e exatamente ao findar estas orações, estava em frente ao cemitério da cidade... foi arrepiante, hehehehe, remeteu-me à infância, no "principado" de Tapiranga, distrito de Miguel Calmon e morada de meus avós maternos, quando curtia férias escolares, passava à distância do cemitério com muito medo... desta vez, aproveitei e fiz mais uma oração aos que já partiram, lembrei de meus pais... momento de pensar sobre a morte e ausências... muita emoção! Pena que esqueci de tirar fotos do tal cemitério, só ficou esta foto ainda no escuro.



Interessante, quando algum peregrino comentava: "Olha! quantos aerogeradores lá longe!", me dava medo, pois com certeza passaríamos perto, mas chegar neles eram necessários pelo menos umas 3 horas de caminhada na certa!





Minha companheira de caminho, não me deixou só nenhum minuto, companheira de todas as horas, por muitas vezes batemos longos papos, confidente leal e altamente confiável (rsrsrs). Como o caminho francês é feito de leste para oeste, não tinha como ela se separar de mim, pelo menos durante as manhãs.

Etapa com considerável número de pequenas subidas e descidas...

Finalmente, após 11 Km sem passar por nenhum lugarejo, dei graças a Deus em avistar Viana,cidade fortificada entre muralhas medievais, com cerca de 5 mil habitantes.
Portal San Felices

Gostaria de ter visitado o interior da Igreja de Santa Maria, mas eram 9 horas e estava fechada. Esta edificação foi construída no Sec XIII e em estilo gótico.

Daqui de Viana ao meu destino final Logroño seriam mais 9,4 Km, esta parada foi providencial para alongar, lanchar, pois o café da manhã foi fraquinho, bem como verificar o tendão, pois não doía, mas o local estava ardendo, precisava ver o que estava acontecendo. Logo ao lado da igreja encontramos o Café San Juan, foi ali onde comi o melhor croissant do Caminho, feito na hora, na companhia de Moizés(DF) e Carol(DF).


Colacau = nescau brasileiro
Ao verificar o que estava ardendo, deparei-me com 3 bolhas enormes... queimaduras causadas pelo esquecimento do gelo por mais de 20 minutos no tendão no dia anterior... este vacilo me custou muito caro! Imediatamente abandonei as botas, pois estas roçavam nas bolhas e o local ficava muito dolorido. Coloquei uma papete bem simples que comprei numa tienda ainda em Zubiri, pendurando as botas na mochila.




Interessante esta ponte feita de madeira, especialmente para passagem de peregrinos, tendo em vista que não havia nenhuma cidade nos arredores.
Próxima à fronteira da Navarra com a La Rioja, passei por um lindo casal, tentei conversar um pouco com eles mas não saía nada em espanhol e nem tampouco em inglês, então restou-me a desejar: Buen Camino!, responderam numa língua que não entendi (rsrsrsrs).


A 1 Km de Logroño, fiz questão de carimbar a minha credencial e assinar um livro de registro na casa de Dona Felisa, figura emblemática do Caminho que oferecia figos aos peregrinos que passavam, acalmando o cansaço. Pena que faleceu em 2003, sendo que a filha ainda mantém este ponto de apoio aos peregrinos, oferecendo-lhes carinho e atenção...
Chegada em Lorgroño
Crematório Municipal
Ponte de Pedra, cruzando o Rio Ebro, construída em 1884 em cima de outra do século XI, feita nada mais nada menos pelo Santo Domingo de La Calzada e por San Juan de Ortega, mais adiante falaremos sobre estes dois personagens do caminho, os quais emprestaram seus nomes para duas cidades.



Chegamos ao meio-dia no Albergue Municipal de Peregrinos (7 euros, sofrível estado de conservação), que só abriria às 13 horas, formando-se uma longa fila. O tempo passou rápido, pois ficamos batendo papo e ouvindo um casal, salvo engano da Noruega, ela tocando flauta e ele uma harpa.

Lembram da Josefina, a enfermeira holandesa que conheci no albergue em Pamplona? Olha ela chegando na fila!
Revi o Govert, holandês casado com uma brasileira, mas residente em Maastricht, Países Baixos. Conheci ainda no primeiro dia do Caminho, estávamos descendo os Pirineus, quase chegando em Roncesvalles, ele usava dois bastões articuláveis mas andava muito desengonçadamente, notei que havia algo errado. Os bastões estavam muito curtos para a sua altura. Perguntei-lhe porque ele não alongava ao máximo os bastões já que era muito alto? foi ai que após esta dica, regulou os bastões, me agradecendo num português bem pausado. Nas demais etapas que nos encontramos sempre citava esta passagem sem parar.

Desenho feito num paredão vizinho ao albergue
Hall de entrada do albergue

Sai para almoçar e conhecer um pouco Logroño, também chamada de Capital de La Rioja, é uma cidade grande, linda e superdesenvolvida, com aproximadamente 155 mil habitantes, com muitos edifícios, museus, igrejas, catedral, universidade de La Rioja, entre outras atrações turísticas.


Ruela com muitos restaurantes




Almoçamos no Kuppa, restaurante bem simpático, situado na Plaza Del Mercado, 25, tel 941274594, menu do peregrino a 11 euros, incluindo: salada mista, filé de merluza com fritas, flan(pudim) e uma garrafa de vinho da Rioja.
 
Retornei ao albergue, estava muito preocupado com as bolhas. Moizés(DF) se ofereceu para ajudar a fazer o curativo, furando-as com agulha e sempre tomando cuidado em deixar uma linha de algodão, a fim de drená-las e não voltar a juntar líquido.


De agora em diante, teria que andar com papete até estas bolhas secarem por definitivo, ou seja, no mínimo 5 a 6 dias. Mas aquela papete simples não teria condições nenhuma, pois pisando numa mínima pedra doía a planta do pé. Foi então que comecei a procurar no ipod (wi-fi péssimo do albergue), por lojas de artigos esportivos. Eureka!!! uma Decatlhon na Zona Industrial de Logroño! não contei conversa, peguei um ônibus e 20 minutos depois estava comprando uma papete da marca Columbia, apropriada para montanhismo, excelente, por 47,50 euros. 
Centro Comercial Parque Rioja, Calle Pradoviejo, 68, Tel  941519456

Rapidinho peguei outro ônibus de volta, e o tempo que estava com sol forte, fechou de vez. Sorte minha pois já estava no interior do coletivo!


Antes de me recolher ao albergue, aproveitei para comprar remédios e fazer mercado com vistas à janta e café da manhã do dia seguinte. No caminho ainda me deparei com a saída de noivos em frente à Catedral de Santa Matia de La Redonda.



Fui dormir bem cedo, por volta das 21 horas, meio sem graça pelas queimaduras... me culpando do vacilo... mas acreditando que o acontecido serviria para alguma coisa e que futuramente tiraria proveito de toda esta situação. Ao mesmo tempo que fazia minhas orações, agradeci ao Grande Deus em colocar inúmeras pessoas em meu Caminho durante esta caminhada. Em especial naquele momento estava pensando no casal de brasilienses já mencionados algumas vezes neste blog. O Moizés e a Carol são pessoas iluminadas, simpáticos, alegres, sempre dispostos a ajudar o próximo. Por estarem no segundo caminho davam inúmeras dicas, por diversas vezes quando diminuía o ritmo devido à tendinite, eles faziam questão de diminuir também e me acompanhavam dando força. Ele fazia questão em realizar o curativo diário da queimadura, prescrevendo recomendações e orientações médicas, realmente foi um irmão, pai, médico, amigo, guia, professor de fotografia (rsrsrs), enfim, conselheiro em inúmeras etapas, principalmente nas que mais necessitei de ajuda. Que Deus continue iluminando os passos deste casal!


16 comentários:

  1. Que delícia de relato... e quem é o peregrino que nunca 'vacilou' ao longo de sua jornada??? Dá uma saudade enorme deste maravilhoso caminho!!!

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    1. Mas os vacilos são importantes para o nosso crescimento!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. É muito agradável ler seu relato, peregrino !!
    As fotos são lindas, e trazem boas recordações.

    Obrigada por compartilhar.


    Abs
    Jurema

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  4. Estamos viajando com vc ao compartilhar toda a intimidade dos seus sentimentos!!! bjus

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    1. Claro que sem o seu apoio este blog não existiria. Beijao!

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  5. Realmente é uma delícia re-caminhar pelas imagens e pelo relatos do Kerjean. Tento vê e reconhecer as paisagens captadas por outros ângulos, outras luzes; estamos juntos nessa caminhada. Abraços Emanoel Braga.

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  6. Verdade amigo peregrino. Gostei também muito do texto do Graciano, ele escreveu em resposta a um peregrino que fez recentemente o Caminho e ficou decepcionado com algumas coisas.É possível que ele (o caminhante), ficou na busca de um caminho aos moldes ficcional do caminho de Paulo Coelho, e enfrentou uma realidade bem diferente.

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    1. Temos que tomar cuidado com as expectativas, quanto maiores e não atendidas... maiores serão as frustações!

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  7. Kerjean.
    Santiago opera milagres e, como eu aprendi: A Santiago se vai e nunca se volta. Seu blog caiu em minha vida num momento singular... De "bolhas", se posso assim dizer e ser entendida. Momento de abandonar as botas um pouco, regular a mochila e reestabelecer o ritmo da caminhada.
    Obrigada por compartilhar seu Caminho, que a passa a ser também um pouco de cada um que, despidos das amarras da vida cotidiana, buscam um caminhar mais leve.
    Estarei acopanhando seus passos.
    Ultreya e buen camino!
    Animo, peregrino!
    Beijo de borboleta
    Ilana

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    1. Grato Ilana pelas colocações... as bolhas foram importantíssimas para o meu crescimento pessoal, cuidá-las no dia a dia era um dos afazeres que não me aborrecia em nada!
      Forte abraço!

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Irmão boa noite!
    maravilha, vê-se qto vc aproveitou essa viagem, apesar da tedinite e das bolhas, mas, tudo tem que ter um sacrfício. muiro legal estas passagens.
    Forte abraço
    Do seu amigo
    lemos (bambam)

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  10. Prezado Kerjean,

    Tem sido uma delicia os relatos, textos e fotos. Parabens!
    Como eu estou programado para viajar no mesmo periodo que você, e um tanto paranoico, com o que levar, para que minha mochila não chegue aos 10 quilos - já estou no limete - GOSTARIA DE SABER SE REALEMNTE É NECESSARIO LEVAR UMA CALÇA IMPERMEAVEL, PARA ENFRENTAR A CHUVARADA?
    um forte abraço...

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    1. Olá Marcelo,
      Peguei somente 5 dias de chuva, levei um poncho, cobria a mochila e tornozelos... acho prudente se não tiver poncho, que leve a tal calça impermeável!

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