Puente La Reina a Estella (21,8 Km)

Etapa 5 (03/05/12): dia da delicadeza de uma criança e da "ansiedade? tô fora"

Comecei a pegar o ritmo em sair quase sempre ao amanhecer, pois contemplava as lindas imagens do sol aparecendo logo no início do dia. Belíssimas!!!

Linda Ponte Medieval de Puente La Reina

O caminho na sua grande maioria é limpíssimo, quando acontece alguma sujeira é invariavelmente provocada pelos peregrinos. Principalmente no início da manhã, quando vão caminhando e ao mesmo tempo tomando seu café da manhã e/ou lanchando, eles vão deixando rastros de sujeiras pelo caminho, e o pior, as vezes restos de lixo que não são orgânicos.  Isto nos entristece, pois existem alguns prefeitos, moradores e comerciantes locais (poucos) que se preocupam com a manutenção do caminho, colocando lixeiras/caixas coletoras. 
O que custa cada peregrino guardar seu lixo em algum saco, pendurá-lo na mochila e em qualquer oportunidade próxima descartá-lo em uma lixeira? É chato falar disso, mas é necessário, precisamos conscientizar também os peregrinos!

Após 5 Km passei por uma cidade chamada Maneru, sem muita expressão, mas bem arrumada.

Igreja San Román, em estilo gótico (Sec XIII)

Mais adiante passou por mim um bicicrino, o André de Cascavel/PR, acompanhou-me por alguns minutos, e bastante animado, disse-me que iria fazer o caminho francês em 10 dias, ou seja, cerca de 100 km por dia, sendo que o peso total da bicicleta e equipamentos era de 35 KG. Nos despedimos rapidamente e desejei-lhe um Bom Caminho!

 

Abaixo duas fotos de bicicrinos, somente para demonstrar que nem sempre eles fazem o mesmo caminho dos que fazem a pé, existem estradas separadas para eles. Por muitas vezes deparei-me com alguns tentando descer escadas.

Senti falta de bosques e sombras nesta etapa, dia de muito sol quente... 

Próximo ao vilarejo seguinte, Cirauqui (significa ninho de cobras), muitos vinhedos, que pena não estarem prontos para a colheita! rsrsrsrs

Ciruaqui: parada para um lanche providencial

Depois da parada, nem sinal de sombra...

Finalmente outra cidade, cansaço estava batendo e desejava sempre um ponto de apoio, desta vez a parada foi em Lorca.

Nem parei na igreja de Lorca, muito cansado...

O caminho tem destas coisas, morrendo de calor e doido por um banho ou alguma água bem fria, ainda 10h da manhã... que dádiva no meio duma praça: uma fonte d'água... só foi o tempo de tirar a mochila, boné e os óculos... e muita água sob a cabeça... revitalizadora! era tudo que eu precisava debaixo daquele sol escaldante... foram minutos maravilhosos ali...

 

 

Nesta mesma praça conversei com uma espanhola que estava vendendo frutas, salada de frutas e sucos aos peregrinos que passavam... ela disse que sempre nos meses de alta estação faz isso pela manhã como uma fonte de renda adicional.

Vendedora na praça de Lorca

Já na saída de lorca, chamou-me atenção uma música de Adele (Someone Like You) que vinha do interior de um albergue, o qual na sua recepção funciona um restaurante/bar "La Bodega del Camino". Estranhei, pois muito difícil ouvir música americana no caminho, mas interessei-me mesmo foi pela música, pois lembrei-me muito de meu filho Tarik, não me contive, nem tirei a mochila, puxei uma cadeira e sentei-me para ouvi-la. Ai bateu muita saudade de casa...

Como ornamentam bem as fachadas de suas casas!

Área de descanso próximo à Villatuerta

Entrada de Villatuerta

 

Após uma pracinha, passei por uma escola no horário do intervalo. Avistei muitas crianças brincando na quadra e alguns metros depois de um dos portões da escola, ouvi uma menininha linda me chamando: "psiu, psiu!" quase não retorno, mas voltei e perguntei-lhe se estava tudo bem e porque tinha me chamado. Ela simplesmente me respondeu: "Buen camino!".

Me emocionei muito, dobrei a esquina e ela ficou acenando dando adeus. Num momento de muita delicadeza... foi mais uma surpresa que o caminho me pregou!

 

A 4 Km antes de alcançar o destino final desta etapa, cheguei em Villatuerta. Deparei-me com uma boa sombra a beira do Rio Iranzu, parei calmamente, tirei as botas e meias, deixei os pés imersos na água gelada até a altura dos joelhos, amenizando uma dor no tendão direito que começava a incomodar. 

Comi um bocadillo com jamon e queso que tinha preparado no café da manhã.

Fiquei ali parado por quase uma hora, contemplando a natureza, ouvindo o som da água e do canto dos pássaros. 

Naquele momento tive a clara certeza que o caminho se faz sem pressa, sem ansiedade, o caminho sempre estará lá a nossa espera... Esta foi a grande lição desta etapa!

 

Estátua de San Veremundo e ao fundo a Igreja de Nossa Senhora da Anunciação

Carrinho interressante roçando o acostamento do caminho

Rio Ega na entrada de Estella

Fiquei hospedado no Albergue Municipal Hospital de Peregrinos (5 euros) que possui 2 andares, instalações conservadas e bem completo, com tudo que o peregrino necessita.

Calle La Rúa, 50 (tel 948 55 02 00)

Estella é uma cidade com muitas construções medievais belíssimas, pena que andei pouco, cheguei com muita dor no tendão, dando uma passeada rápida e ficando de molho no albergue, descansando e passando uma pomada espanhola "radio salil", verdadeiramente milagrosa, recomendada desde o Brasil por um amigo peregrino, o Wellington Muller.

Igreja de San Pedro de La Rúa

Convento de San Domingo

Ruas estreitas e limpíssimas

Algumas ladeiras, como existisse cidade alta e cidade baixa

Após um breve passeio, antes de voltar para o albergue, fiz uma paradinha básica na Plaza Del Fueros, encontrando muitos estabelecimentos com wi-fi grátis, e aproveitei para me comunicar com a família através do skype e/ou facetime.